Título: Eduardo Cunha agora vai propor mínimo de R$560
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 06/01/2011, O País, p. 3

Já Paulinho da Força diz que defenderá R$580, um dia após Mantega avisar que vetará proposta maior que R$540

BRASÍLIA. Um dia depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ameaçar os parlamentares com veto a uma proposta maior do que R$540 para o salário mínimo, parlamentares do PMDB e do PDT reafirmaram ontem sua intenção de apresentar emendas fixando valores maiores. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reiterou que pretende apresentar emenda com o valor de R$560, enquanto o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, defenderá os R$580, proposta de todas as centrais sindicais.

Ontem de manhã, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, entrou em campo e se colocou à disposição para atuar como moderador nesta negociação entre seu partido e o governo. Mas, em rota contrária à do ministro, que falou de sua preocupação com o impacto do mínimo sobre as contas da Previdência, Eduardo Cunha anunciou no Twitter sua intenção de aumentar o mínimo.

Sem disfarçar sua insatisfação em relação ao governo Dilma, Cunha argumenta que, se o PDT que tem Carlos Lupi como ministro do Trabalho pode propor um mínimo de R$580, o PMDB também pode apresentar uma emenda propondo que o mínimo fique acima dos R$540.

Sobre a ameaça de veto anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o parlamentar antecipou que apresentará uma proposta de emenda constitucional alterando o rito de tramitação dos vetos. Sua ideia é garantir aos vetos uma tramitação semelhante à das medidas provisórias, que são analisadas separadamente pela Câmara e Senado, como forma de reafirmar a autoridade do Congresso Nacional.

Eduardo Cunha lembra que, no dia da edição da MP do Mínimo, já tinha anunciado que iria apresentar a emenda e que, portanto, não tem relação com a discussão sobre a participação do PMDB no governo:

- Não tem nada a ver com a questão dos cargos. No dia da MP, coloquei isso no Twitter. Ninguém acredita que o mínimo ficará em R$540.

Nos bastidores, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) admite que estaria sendo estimulado por líderes peemedebistas a levar adiante a proposta das centrais, de R$580. Garibaldi minimizou, porém, a pressão de seu partido para aumentar o valor.

- Eu estou investido, aliás, eu me investi deste papel de moderador nesta hora, porque eu sei o que representa para a Previdência esses números - afirmou Garibaldi ao participar da cerimônia de posse do pai, Garibaldi Alves, que assumiu o mandato de senador no lugar de Rosalba Ciarlini, eleita governadora do Rio Grande do Norte.

"A medida tem graves repercussões em estados e municípios"

Já o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), soltou nota para tentar desvincular a discussão do mínimo das negociações do partido para a composição do segundo escalão: "Diante da responsabilidade que temos com o país e com o nosso governo da presidente Dilma, queremos antecipar a este momento uma discussão séria com a área econômica. Buscar números e razões para enfrentar este debate, que não pode ser emocionalizado (sic) nem demagógico. Essa medida tem graves repercussões nos estados e municípios e o PMDB quer sua bancada unida e consciente na discussão e na votação - apenas isto".

O ministro Moreira Franco, da SAE, entrou em campo à noite:

- Não vai haver chantagem em relação ao salário mínimo. Com economia não se brinca.

Ontem, em nota, a Força Sindical atacou Mantega, chamando-o de "Robin Hood às avessas", afirmando que suas declarações demonstram sua insensatez de burocrata: "O infeliz comunicado revela que Mantega age como um Robin Hood às avessas, se curvando aos especuladores e virando as costas para os menos favorecidos".