Título: Dilma cobra explicações de general por afirmação sobre desaparecidos
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Fonte: O Globo, 06/01/2011, O País, p. 4

Chefe do GSI pede desculpas à presidente e diz que "foi mal interpretado por jornalistas"

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff não gostou das declarações do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito, sobre desaparecidos durante a ditadura e exigiu dele uma explicação. Anteontem, num encontro reservado, Dilma manifestou seu descontentamento, e o general pediu desculpas pelas frases e sustentou que foi mal interpretado por jornalistas. Em entrevista, após tomar posse, Elito disse que o fato de haver desaparecidos políticos durante o regime militar devia ser encarado hoje como um "fato histórico" e não era motivo para comemorar nem para se envergonhar.

- Nós temos que ver o 31 de março de 1964 como dado histórico de nação, seja com prós e contras, mas como dado histórico de nação. Da mesma forma, os desaparecidos são História da nação, de que nós não temos que nos envergonhar ou nos vangloriar. Nós temos que enfrentar e estudar discutir e conversar como fato histórico. Guerra do Paraguai, não se fala em pró e contra?

Para ministro, divergências no governo são naturais

Segundo o general, é hora de olhar para a frente.

- Temos é que pensar para a frente, na melhoria do nosso país para as nossas gerações, e podemos estar perdendo tempo, espaço, velocidade se ficarmos sendo pontuais em situações isoladas do passado.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que não tomou conhecimento do conteúdo integral das declarações do general. Para ele, as frases atribuídas a Elito pelo noticiário dos últimos dias poderiam estar fora do contexto. Cardozo considera, no entanto, naturais eventuais divergências de pontos de vistas entre ministros de um mesmo governo. Para ele, essas discrepâncias são resolvidas pela presidente, que tem o respaldo do voto popular para isso.

- Felizmente nós não estamos mais na ditadura militar, onde o pensamento único era uma verdade inexorável. Os que não pensavam como os ditadores pensavam eram proscritos - disse.

Numa entrevista concedida ao programa "3 x 1", da TV Brasil, Cardozo chegou a incentivar o debate. Para ele, é bom que qualquer assunto seja debatido desde que dentro dos limites do "razoável".

- Vamos polemizar. No governo, quem define essas coisas é a presidente eleita, como eu disse - afirmou.