Título: Vamos dançar a música dos EUA
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 06/01/2011, Economia, p. 21

JOSÉ ALFREDO LAMY

Sócio da Cenário Investimentos e especialista em câmbio, José Alfredo Lamy diz que novas medidas contra a desvalorização do dólar terão "vida de curto prazo" e que o destino da moeda depende da política monetária dos EUA, que continua expansionista. Para ele, porém, o dólar está excessivamente desvalorizado.

O governo pode adotar novas medidas no câmbio. Isso vai resolver?

JOSÉ ALFREDO LAMY: Medidas como quarentena e aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) puniriam a entrada de capital estrangeiro, mas teriam uma vida de curto prazo. Não mudariam a tendência básica da moeda americana, que é de perder valor. Mas acho que o governo vai tentar colocar o dólar entre R$1,70 e R$1,80. Nem muito baixo, para não afetar exportadores, nem muito alto, para não pressionar a inflação e o financiamento da conta corrente. Neste ponto, tem sido vantagem para o governo o dólar barato. Mas concordo que o câmbio está fora do lugar e prejudica exportadores.

E o que determina o limite dessa desvalorização?

LAMY: Quem comanda isso é a política monetária americana. O Fed (Federal Reserve, banco central americano) tem colocado muito dinheiro na economia e mantido juros baixos. Isso gera excesso de liquidez e investidores buscam aplicações em países emergentes, o que gera distorções no câmbio. E isso vai continuar ocorrendo. Um belo dia vai ser corrigido, mas não sabemos quando. O Fed toca a música e nós vamos ter que dançá-la até acabar.

O governo fala em guerra cambial. O senhor concorda?

LAMY: O câmbio ideal na cabeça do Ministério da Fazenda seria fixo em R$1,70. Muito acima disso, reclama porque estariam especulando e tirando dólares do país. Abaixo, falam em guerra cambial. Não era para ficar tão preocupado.