Título: Chuva de dólares no país
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 06/01/2011, Economia, p. 21

EFEITO CÂMBIO

Ingresso de recursos estrangeiros chega a US$202 bi no governo Lula. Na Era FH, houve saída de US$26 bi

Impulsionado pela balança comercial, diferentemente do que ocorre atualmente, o Brasil passou a lidar com uma enxurrada de dólares durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram nada menos que US$202,726 bilhões de ingressos líquidos entre 2003 e 2010, enquanto no governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, houve saídas de US$26,278 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). A conta comercial registrou superávit de US$307,317 bilhões entre 2003 e 2010, ao passo que a conta financeira teve déficit de US$104,592 bilhões.

Mas, ainda que a conta financeira tenha encerrado o período 2003-2010 negativa, os investimentos direcionados ao setor produtivo - US$205,770 bilhões, alta de 25,9% - e em carteira - US$148,360 bilhões, aumento de 111,5% - também marcaram a Era Lula. Só não engordaram o desempenho porque as remessas de lucros e dividendos deram um salto de 328,5% sobre os tempos de FH, somando US$152,258 bilhões.

O fluxo de recursos estrangeiros, reconhecem o governo e especialistas de mercado, deve continuar forte, já que neste momento o país é um dos principais polos de atração de investimentos estrangeiros, sejam produtivos ou de portfólio. Isso é motivo de comemoração - essa poupança externa financia investimentos no país -, mas também há consequências pouco desejadas, como a atual pressão de valorização do real frente ao dólar.

- O quadro, no limite, é positivo, porque essas entradas de dólares são resultado de um país melhor, que inspira confiança - resumiu o analista da consultoria Tendências Bruno Lavieri.

Conta financeira passou a comercial

Em 2010, também informou ontem o BC, o fluxo cambial fechou positivo em US$24,354 bilhões, impulsionado pela conta financeira. Por ela passam os investimentos estrangeiros diretos, em portfólio, entre outros: o superávit do ano passado chegou a US$26,004 bilhões, o melhor resultado da série histórica do BC, iniciada em 1982.

Será justamente por esse canal que o país continuará recebendo mais dólares. Um importante integrante da equipe econômica afirmou ao GLOBO que o destaque serão os investimentos estrangeiros produtivos, especialmente aqueles voltados para infraestrutura, ainda mais com a proximidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, explica que, desde a crise global, os emergentes atraem mais capital, uma vez que as economias ricas ainda não decolaram. De 2006 até 2010, a fatia brasileira no total de investimentos externos produtivos saltou de 1,3% para 3,6%.

O governo projeta que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) brasileiro deve ter crescido mais de 7,5% em 2010, passando a aproximadamente 4,5% este ano - a média da Era Lula ficou em 4%, muita acima do patamar dos oito anos anteriores. Acrescenta-se a esse cardápio a elevada taxa de juros básicos do Brasil, hoje a 10,75% ao ano, uma das maiores do mundo. É a Selic que remunera boa parte dos títulos públicos.

Até a crise internacional, no fim de 2008, o país recebia dólares sobretudo pela conta comercial. De dois anos para cá, no entanto, esse quadro se inverteu. Em 2010, por exemplo, a conta comercial ficou negativa em US$1,650 bilhão, o primeiro déficit desde 1997, quando ficou em US$2,658 bilhões, enquanto os investidores em portfólio ampliaram o apetite. Apenas em 2009 e 2010, foram US$84,159 bilhões, ou 57% do total do governo Lula. Nesse período, houve a capitalização de cerca de R$120 bilhões da Petrobras e a abertura de capital do Santander, em torno de R$10 bilhões.