Título: G-20 como arma contra guerra cambial
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 06/01/2011, Economia, p. 22

Governo Dilma quer fortalecer grupo. Ideia é reduzir influência do dólar

BRASÍLIA. Renascido na crise financeira de 2008, o G-20 ganhou importância global e deve ser firmar como um dos principais foros mundiais sobretudo no que diz respeito a uma saída para a guerra cambial. O novo governo brasileiro já tem a missão de priorizar o grupo, como indicam os discursos da presidente Dilma Rousseff e dos ministérios da área econômica. Guido Mantega, da Fazenda, destacou que "o cardápio do governo (de medidas para lidar com o dólar fraco) é infinito, segundo resoluções do G-20". Na avaliação do governo brasileiro, uma onda de ações conjuntas certamente tem mais efeitos do que medidas paliativas para conter a entrada de capitais no país.

À frente da presidência do G-20 este ano, a França já avisou que vai incluir na agenda a discussão sobre um novo sistema monetário internacional. Nas últimas reuniões do Bric (grupo de reúne Brasil, Rússia, Índia e China) já se falava em uma cesta de moedas de referência para evitar que qualquer soluço nos EUA tivesse impacto sobre o resto do mundo.

- Não se pode ter para sempre um sistema monetário internacional baseado na moeda de um único país que, frequentemente, é levado a agir só em função de seus interesses nacionais - disse ao GLOBO o ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão, antes de deixar o cargo para assumir a embaixada do Brasil em Tóquio.

Este é um raciocínio que pode ser usado como barganha a partir de agora. A ideia é argumentar que, se os EUA quiserem manter sua moeda como a referência global, precisam tomar medidas pensando nos efeitos sobre outras nações. No encontro que precedeu a última reunião do G-20 em Seul, na Coreia do Sul, os próprios americanos chegaram a reconhecer em um documento de consenso que "países emissores de moedas de reservas (...) devem levar em conta os efeitos adversos que podem gerar no mundo". Mas isso não ficou escrito claramente no documento final de Seul.