Título: Com impacto do dólar baixo, produção industrial caiu 0,1% em novembro
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 06/01/2011, Economia, p. 22

EFEITO CÂMBIO: Importação e freio nas exportações afetaram atividade

No ano, setor avança 11%. Máquinas e equipamentos têm o melhor resultado

A indústria brasileira não cresceu em novembro, num desempenho que vem se repetindo durante quase todo o segundo semestre, informou ontem o IBGE. Sofrendo com a concorrência dos importados mais baratos, a produção industrial caiu 0,1% no penúltimo mês do ano passado, frente a outubro, acumulando, porém uma alta de 11,1% no ano. Frente a novembro de 2009, ano em que a indústria ainda estava se recuperando, a alta é de 5,3%.

Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal, há um volume maior de importação nas áreas de siderurgia, bens de capital (máquinas e equipamentos) e nos eletrônicos:

- Alguns setores perderam espaço no mercado internacional. E a apreciação cambial favorece o barateamento de produtos e interfere na decisão das empresas de produzir ou trazer de fora.

Essa perda de mercado externo ficou clara com a indústria de telecomunicações. A exportação de celulares ficou 20% menor no ano passado e fez o ramo de material eletrônico e equipamentos de comunicações reduzir em 11,4% a produção frente a novembro de 2009. Com os setores têxtil (-5,7%) e de calçados (-5,5%) foram os três únicos ramos de 27 pesquisados que diminuíram a produção na comparação anual.

Essa acomodação na indústria deixou a quantidade produzida 1,7% inferior ao seu topo histórico, de março de 2010. Na comparação com 2008, a crise ficou completamente para trás na indústria. O total produzido está 2,6% acima daquele ano.

Indústria deve ter fechado 2010 com alta de até 11%

Para o pesquisador Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o câmbio foi o vilão da indústria no semestre passado:

- A produção para o mercado interno passou a sofrer a concorrência dos componentes importados, o que afetou os fornecedores.

Apesar da estagnação, o setor de bens de capital (máquinas e equipamentos que indicam o investimento para aumentar a capacidade produtiva do país) subiu 3,2% contra outubro. A expansão vem depois de dois meses de queda. Mesmo com a importação de máquinas e equipamentos subindo muito, a produção vem acompanhando, observa Carvalho. No ano, esse setor da indústria já cresceu 22,3%. Também chamou a atenção o bom desempenho dos bens intermediários (insumos para indústria) que subiu 1%, depois de três meses em retração, período em que acumulou perda de 1,5%.

- Era um grupo que vinha sofrendo muito com a questão cambial - afirmou Carvalho.

Para dezembro, a expectativa do pesquisador é de que a produção volte a crescer diante da percepção dos empresários de que os estoques estão ajustados.

- A confiança voltou a crescer em dezembro. Esperamos que a indústria tenha fechado 2010 com alta de 10,5% a 11%.