Título: Fortes sai dizendo que seu ministério foi o mais cobiçado porque tem verba
Autor: Camarotti, Gerson; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/01/2011, O País, p. 4

Ao passar o cargo a Negromonte, ex-ministro causa constrangimento

BRASÍLIA. Em um discurso curto e direto, feito de improviso, o ex-ministro das Cidades Márcio Fortes não conseguiu disfarçar seu incômodo durante a cerimônia de transmissão do cargo ao sucessor Mário Negromonte, deputado baiano do PP eleito pelo quinto mandato.

Para justificar as breves palavras, cerca de um minuto, disse que o importante é quem entra e não quem sai, sem esconder o ressentimento. Fortes dispensou balanços da sua gestão, lembrando que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) teve um relatório divulgado recentemente.

- Já se sabe tudo o que foi feito. Talvez, por isso, este tenha sido o ministério mais cobiçado nessa mudança de governo.

Na fila de cumprimentos, pouco mais tarde, Fortes, que não teve o apoio do seu partido, o PP, para ser reconduzido ao cargo, como queria a presidente Dilma Rousseff, afirmou que o Ministério das Cidades despertou o interesse de todos porque tem dinheiro e é o que mais tem contato com a população.

O novo ministro fez um discurso emocionado, com elogios ao trabalho de seu antecessor. Mais tarde, perguntado sobre o clima de tensão, disse não ter notado constrangimento:

- Aplaudi, fiquei de pé. Houve preferência política pelo meu nome. Não teve constrangimento da minha parte. Não houve veto a ninguém.

Negromonte afirmou que já avisou à presidente que pretende dar uma volta pelo Brasil para verificar as obras do PAC e fazer um diagnóstico de eventuais problemas para "colocar gasolina azul e tocar essas obras". Ele disse que o saneamento terá prioridade, assim como as obras do PAC e da Copa do Mundo.

Perguntado se teria uma relação mais próxima do que o antecessor com o Congresso, Negromonte não hesitou:

- Não é só obra. É gesto, carinho, atenção. O Congresso e o partido vão ter atenção especial. Mas, antes de tudo, serei um fiel escudeiro deste governo - ressaltou.

A bancada do PP no Congresso - que vetou a permanência de Márcio Fortes no posto - compareceu em peso à posse de Negromonte, assim como políticos da Bahia. Fortes admitiu ter três convites da iniciativa privada e um do governo, mas não entrou em detalhes.