Título: PMDB e PT brigam por cargos e boicotam posses uns dos outros
Autor: Camarotti, Gerson; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/01/2011, O País, p. 4

Luiz Sérgio saúda presença de Collor ao assumir cargo no Planalto

BRASÍLIA. No primeiro dia útil do governo Dilma Rousseff, a crise entre PT e PMDB pela disputa do segundo escalão chegou ao Palácio do Planalto e foi tema da reunião de coordenação política de governo. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) foi escalado pelos líderes do partido para relatar as insatisfações com o avanço do PT em cima dos principais cargos do partido nas estatais e no segundo escalão dos ministérios. A rivalidade entre os dois partidos ficou clara nas ausências nas cerimônias de transmissão de cargos de ministros petistas e peemedebistas.

Nenhum integrante do PMDB apareceu na cerimônia do petista Luiz Sérgio como novo ministro de Relações Institucionais, de manhã, no Planalto. Da mesma forma, nenhum petista foi prestigiar as posses dos novos ministros da Previdência, Garibaldi Alves, e do Turismo, Pedro Novais, ambos do PMDB.

A decisão de levar o problema para a presidente Dilma, na reunião de coordenação, foi tomada no início da tarde depois de um encontro de caciques do PMDB. Hoje, está agendado novo encontro dos líderes do partido na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Perguntado sobre a crise, o vice Michel Temer reconheceu conflitos, mas minimizou:

- Vamos analisar a situação com muita calma. Não há divergência. Há conflitos que são naturais - disse Temer, reconhecendo que tudo depende das conversas que virão agora e que elas são necessárias para acalmar a situação. - Vamos prosseguir nas conversações e vamos precisar delas. O certo é que o PMDB vai colaborar. Tudo se resolve no seu tempo e à sua maneira.

Já no dia da posse, sábado, o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, manifestava intenção de procurar os aliados para buscar um entendimento entre PT e PMDB.

- Palocci vai se encontrar com os principais líderes do PMDB num esforço de conciliação - disse o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, do PMDB.

Insatisfeitos com a distribuição de cargos no segundo escalão e, sobretudo, com a decisão do novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de tirar das mãos do partido o controle da Secretaria de Atenção à Saúde, o PMDB foi o grande ausente na troca de comando da Secretaria de Relações Institucionais, ontem. Padilha indicou Helvécio Magalhães, do PT de Minas Gerais, para a Secretaria, tirando o cargo do PMDB.

Temer explicou que não foi à transmissão de cargo para Luiz Sérgio porque havia muitas solenidades ao mesmo tempo. Mas houve, sim, uma estratégia de não prestigiar as posses dos ministros políticos do PT para explicitar publicamente a insatisfação. Os petistas decidiram dar o troco e não mandaram emissários para os eventos de peemedebistas.

Na semana passada, o líder do PMDB, Henrique Alves, cobrou de Padilha a decisão de tirar do PMDB a Funasa e a Secretaria de Atenção à Saúde. Os peemedebistas perderam também o comando dos Correios.

- Está muito cedo para criar um clima de guerrilha entre os dois partidos. O PT precisa do PMDB, e nós precisamos do PT. É preciso procurar o mais rápido um entendimento - ponderou o senador eleito Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Na posse do ministro Luiz Sérgio, no Planalto, o antecessor Alexandre Padilha foi quem mais falou. Os dois, no entanto, fizeram questão de elogiar um convidado que já frequentou muito o Palácio do Planalto: o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).

- Quero dirigir uma saudação especial ao senador Fernando Collor, com quem tive uma ótima convivência - declarou Padilha.

- Quero aqui saudar Collor de Mello, senador e ex-presidente da República. É uma demonstração de como este Brasil está mudando. Ao lado de nosso Lindberg (Farias, senador eleito e ex-líder dos caras pintadas), mostrando que a política se dá com o diálogo - afirmou Luiz Sérgio.