Título: Rosário defende apuração de crimes da ditadura
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 04/01/2011, O País, p. 10

Tema volta a causar divisões no governo: general que assumiu GSI afirma que o importante é "olhar para a frente"

BRASÍLIA. No seu discurso de posse, a nova ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, defendeu a responsabilização do Estado pelas violações cometidas pelos militares durante a ditadura. Para ela, essa é uma dívida com os familiares e com os desaparecidos políticos. Na presença do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que polemizou sobre esse assunto com o antecessor de Rosário, Paulo Vannuchi, a ministra ainda fez um apelo ao Congresso para aprovar a criação da Comissão da Verdade.

- Passados quase 50 anos, é mais que chegada a hora de agir com objetividade. Devemos dar seguimento ao processo de reconhecimento da responsabilidade do Estado por graves violações de direitos humanos, com vistas à sua não repetição, com ênfase no período 1964-1985, de forma a caracterizar uma consistente virada de página sobre esse momento da História do país - disse Maria do Rosário no seu discurso, de 18 páginas. - Devemos isso às famÍlias daqueles que foram mortos ou estão desaparecidos. Devemos aos que viveram aquele período e empenharam suas vidas generosamente, porque acreditavam na liberdade e na democracia. Eles nos trouxeram até aqui.

A ministra afirmou que "não se trata jamais de revanche" e disse que as Forças Armadas são parte desse processo de superação e de entendimento:

-- Existe também desejo nas Forças Armadas de ter esse processo concluído - disse ela.

Jobim aplaudiu esses trechos do discurso de Rosário e evitou polemizar, afirmando que o reconhecimento do Estado pelo que ocorreu nos governos militares está ocorrendo com o cumprimento da ação judicial que obrigou a instituição do Grupo de Trabalho do Araguaia. Mas, em outra cerimônia de posse, ontem, ficou claro que a posição de Rosário deverá causar divisões no governo Dilma, assim como ocorreu no anterior. Perguntado sobre a criação da Comissão da Verdade, o novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general José Elito, disse que os militares são servidores públicos e seguirão as orientações do Estado. Mas deixou claro que os abusos devem apenas ser tratados como fato histórico:

- Temos que ver o 31 de março de 1964 como dado histórico de nação, seja com prós e contras, mas como dado histórico da nação. Da mesma forma, os desaparecidos são História da nação, de que não temos que nos envergonhar ou nos vangloriar. Nós temos que enfrentar e estudar, discutir e conversar como fato histórico. Guerra do Paraguai não se fala em pró e contra?

Segundo o general, é hora de olhar para a frente:

- Temos é que pensar para a frente, na melhoria do nosso país para as nossas gerações, e podemos estar perdendo tempo, espaço, velocidade se ficarmos sendo pontuais em situações isoladas do passado.

Rosário, porém, demonstrou outro ponto de vista ao defender a criação da Comissão Nacional da Verdade:

- Somente conhecendo os fatos e reconhecendo os erros é que conseguiremos escrever novas e melhores páginas da nossa História.