Título: Dólar começa 2011 ladeira abaixo
Autor: Carneiro, Lucianne; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/01/2011, Economia, p. 19

Moeda cai a R$1,651, menor cotação em 2 anos e meio. Novo ministro diz que governo não ficará "passivo e inerte"

Odólar comercial abriu o ano em baixa. A moeda fechou ontem a R$ 1,651, com desvalorização de 0,9%, na menor cotação desde 1º de setembro de 2008. O forte fluxo de recursos de investidores estrangeiros e a expectativa de alta da taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), este mês, ajudaram a derrubar o dólar, cujos rumos serão uma das principais preocupações do governo. O novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, tomou posse ontem com uma mensagem clara: o governo Dilma Rousseff não ficará "passivo e inerte" à taxa de câmbio e travará uma batalha contra as disparidades cambiais globais e pelo aumento da competitividade do setor produtivo brasileiro.

- A determinação da presidente Dilma é toda a atenção com nossas contas externas, nosso setor externo, tanto do ponto de vista de desoneração como de defesa comercial. Vamos implementar mais e melhores mecanismos de defesa comercial. O governo da presidente Dilma não ficará passivo e inerte assistindo à taxa de câmbio - disse Pimentel, que substituiu Miguel Jorge no comando da pasta.

Ele destacou que a presidente Dilma determinou que os órgãos da área econômica trabalhem afinados:

- Câmbio e juros são variáveis que não dependem da vontade política de um ou outro gestor da equipe. Mas o câmbio nesse patamar desorganiza muito a produção nacional. Há que se cuidar de encontrar novos caminhos, sem alterar o modelo flutuante que adotamos e está sendo mantido.

Bovespa sobe com otimismo externo

Segundo o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, o otimismo da Bolsa ajudou na queda do dólar, ao lado da expectativa de que o Federal Reserve (o banco central americano) compre mais títulos no mercado, elevando a oferta de dólares.

- O Brasil tem a segunda taxa de juros mais alta do mundo e se espera mais elevações. Isso atrai investidores para o real - aponta Knauer.

Para o gerente de mesa de câmbio da Advanced Corretora, Reginaldo Siaca, a tendência é que o novo piso do dólar seja R$1,60:

- Apesar de um déficit em conta corrente estimado em US$50 bilhões para 2011, o Brasil é a bola da vez, e o dólar deve ficar em R$1,60, R$1,65 no primeiro semestre.

No campo internacional, a presidente levará a Pequim, em viagem prevista para os próximos meses, sua preocupação com os efeitos da guerra cambial sobre as contas externas e os danos causados pela concorrência chinesa na indústria. Os chineses mantêm o yuan artificialmente desvalorizado frente ao dólar, enquanto o real está valorizado ante a moeda americana.

Pimentel disse também que o EximBank, o novo banco de fomento, estará funcionando no primeiro semestre e deverá ter um fundo garantidor próprio. Ele afirmou que haverá novas desonerações tributárias e que a defesa comercial será prioridade.

Pimentel cobrou ainda maior participação dos bancos privados nos financiamentos de longo prazo. O ministro, que confirmou a permanência de Luciano Coutinho no BNDES, disse que o banco estatal tem sido um instrumento decisivo para manter a economia em crescimento.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,95%, aos 69.962 pontos. Dados positivos da economia americana reforçaram a expectativa de sua recuperação. Segundo alguns analistas, contou também o discurso de posse de Dilma, em que ela destacou seu plano para um esforço fiscal e a luta contra a inflação.

Estudo da consultoria Economática mostra que a Bovespa encerrou 2010 com valor de mercado de US$1,5 trilhão (R$2,49 trilhões), o maior da História. No início do Plano Real (julho de 1994), o valor era de US$98,8 bilhões (R$164 bilhões), o que revela crescimento de 15,2 vezes no período.