Título: Tombini assume o BC prometendo reduzir a meta de inflação no futuro
Autor: Duarte, Patrícia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 04/01/2011, Economia, p. 20
Discurso afinado com a gestão de Meirelles é bem recebido pelo mercado
BRASÍLIA. Numa cerimônia bastante concorrida, com a presença de autoridades e banqueiros, o novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, tomou posse ontem defendendo a necessidade de o país trabalhar para reduzir a meta oficial de inflação no futuro. Ele argumentou que esse regime, adotado há mais de uma década, é o mais adequado para manter as estabilidades econômica e de preços. E defendeu que a consolidação da política econômica é condição que abre caminho para se perseguir patamares que se assemelham aos de outros países emergentes.
A meta de inflação no Brasil para 2011 e 2012 é de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Este mesmo objetivo vigorou na maior parte dos oito anos de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em outros países, a meta de inflação não chega a 2%.
- Creio que esse é um processo (redução da meta de inflação) que devemos ter a ambição de perseguir no futuro - afirmou Tombini diante dos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), além dos presidentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, e do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal. - Há consenso de que estabilidade só se garante com inflação baixa - afirmou.
Tombini chamou a atenção para o mercado de crédito e disse que o BC está atento para evitar bolhas. Segundo ele, esse setor crescerá menos este ano, após avançar cerca de 20% em 2010, mas lembrou que o mercado habitacional continuará forte.
- O BC monitora e tomará as medidas necessárias para evitar problemas no mercado de crédito - afirmou ele, que se emocionou ao fim do discurso, ao citar a família.
Analistas preveem alta de ao menos 0,25 ponto na Selic
O recado sobre política monetária a curto prazo foi dado pelo agora ex-presidente do BC Henrique Meirelles, que ficou oito anos no comando da instituição. Em seu discurso de despedida, ele defendeu que eventuais elevações da Selic - a taxa básica de juros do país, hoje a 10,75% ao ano - não devem ser encaradas como um mau sinal:
- Juros sobem e descem segundo o ciclo monetário.
A expectativa do mercado é que o BC volte e elevar a Selic em pelo menos 0,25 ponto percentual nos próximos dias 18 e 19, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) fará sua primeira reunião com o BC sob o comando de Tombini. A inflação está se afastando cada vez mais do centro da meta, ultrapassando 5%. Mas a promessa de austeridade com a estabilidade de preços foi bem recebida pelos presentes à cerimônia, que se mostraram aliviados com a coesão entre os discursos de Meirelles e Tombini.
- Percebe-se um alinhamento grande entre as duas gestões. Isso deixa o mercado tranquilo - disse Barbosa, da Febraban.
Tombini não vai mexer muito na atual diretoria do BC e, se for mudar alguém, deve esperar a volta do Congresso Nacional, em fevereiro, para anunciar todas as alterações.
Na última pesquisa Focus de 2010, divulgada ontem pelo BC, o mercado praticamente não mexeu nas suas previsões. Os 80 economistas consultados na semana passada mantiveram suas estimativas de que o IPCA fechou 2010 em 5,9% e elevaram o número de 2011, de 5,31% para 5,32%. Em ambos os casos, acima do centro da meta de 4,5%.