Título: Reconhecimento mundial para diários de Pedro II
Autor: Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 09/01/2011, O País, p. 17

Pela 2ª vez, documentação brasileira do período do Império disputa título de Memória do Mundo concedido pela Unesco

"Na vinda examinei aqui as oficinas centrais destas estradas de ferro. São muito importantes; porém não tão bonitas como as da estrada de ferro do Rio". A comparação foi feita por Dom Pedro II em 1876, nos Estados Unidos, e faz parte de um acervo de 50 mil documentos deixados pelo imperador com registros de suas três viagens pelos continentes. O material disputará o título de Memória do Mundo em 2012 - classificação concedida pela Unesco à documentação e que corresponde ao Patrimônio da Humanidade para bens materiais e imaterias.

Quatro pesquisadores do Museu Imperial de Petrópolis começaram um trabalho minucioso de revisão do material e a preparação de um dossiê para a Unesco. O trabalho deverá ser concluído em 11 meses.

Esta é a segunda vez que documentos brasileiros do período do Império disputam o título da Unesco. Em 2003, uma coleção com 21.742 fotos da imperatriz Teresa Cristina, mulher de Pedro II, foi considerada patrimônio mundial. O material, de posse da Biblioteca Nacional, retrata cenas do século XIX. Os arquivos da ditadura brasileira, que reúnem documentos do período de 1964 a 1985, também aguardam o título. Na América do Sul, já foram reconhecidos como patrimônio os arquivos das ditaduras da Argentina, Chile e Paraguai.

- As viagens do imperador demoravam em média de oito meses a um ano e meio. Em 1876, ele cruzou de trem os Estados Unidos duas vezes. Foi depois para o Canadá, Europa e Oriente Médio, sempre registrando as expedições. Um detalhe que chama a atenção é que Pedro II falava de igual para igual com pesquisadores e cientistas. Era possuidor de grande conhecimento, o que enriqueceu ainda mais o material - explica o diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira Júnior.

Paralelamente ao trabalho de revisão dos documentos, os técnicos desenvolverão material de divulgação do acervo a ser distribuído nos países por onde Pedro II passou. De acordo com Maurício, uma forma de tornar pública mundialmente a documentação e conseguir, ao mesmo tempo, apoio de pesquisadores destes países na briga pela classificação da Unesco.