Título: Eles se merecem
Autor: HALVORSSEN, THOR
Fonte: O Globo, 13/01/2011, Opinião, p. 7

Em novembro, o Terceiro Comitê da Assembleia Geral das Nações Unidas votou uma resolução abordando as execuções extrajudiciais. A resolução destaca determinados grupos historicamente sujeitos a execuções, incluindo crianças de ruas e defensores de direitos humanos. Nos últimos dez anos, a resolução incluiu também a orientação sexual como um dos motivos pelos quais alguns indivíduos tornam-se alvos de morte.

Entretanto, a pequena nação de Benin, do ocidente africano (em nome do Grupo Africano da ONU), propôs uma emenda para retirar as minorias sexuais da resolução. A emenda foi adotada com 79 votos a favor, 70 contrários, 17 abstenções e 26 ausentes.

Uma série de notórios violadores dos direitos humanos votou a favor da emenda, incluindo-se o Afeganistão, Cuba, o Irã (não foi Ahmadinejad quem disse que não havia gays no Irã?), a Rússia, o Sudão, Uganda.

Adicione-se aí Belize (onde ser gay dá dez anos de cadeia), Jamaica (dez anos de trabalhos forçados), Granada (10 anos), Guiana (pena de morte), São Cristóvão e Neves (10 anos) e Santa Lúcia (10 anos). Na América Latina, somente Cuba uniu-se aos países muçulmanos, africanos e afrocaribenhos. Para sua própria vergonha, a Colômbia esteve entre as 16 nações que se abstiveram. Isso mesmo aconteceu com muitas ilhas do Caribe que tanto se beneficiam do turismo gay.

Entre os contrários à emenda incluem-se todas as nações europeias presentes, todos os países escandinavos, a Índia, a Coreia do Sul, a maior parte dos países latino-americanos, toda a América do Norte e apenas um país do Oriente Médio: Israel.

A ONU tem fama de não fazer praticamente nada quando diante de assassinatos em massa ou genocídios. ¿Nunca de novo!¿ foi o grito após o holocausto. Desde então, o mundo tem presenciado dezenas de ¿nunca de novo¿, com fortes condenações das Nações Unidas vindas depois de se amontoarem os cadáveres. Uma resolução do tipo da que foi votada na Assembleia Geral é significativa pela clareza da mensagem: ¿Podem matar os gays.¿

Nem uma única nação africana votou contra a emenda, o que não surpreende. O homossexualismo é ilegal na maior parte da África. A morte extrajudicial de gays e lésbicas em virtude de suas condutas privadas consensuadas é tão aceitável que um desses países, Uganda, está considerando introduzir uma lei tornando a homossexualidade (somente ser gay, não o comportamento homossexual) crime cuja punição é a pena de morte.

Uganda não é uma nação muçulmana. É um país cristão. E foram os pastores evangélicos americanos de Uganda que botaram lenha na fogueira do que poderia se tornar execuções em massa. Tive a oportunidade de me encontrar com uma das corajosas pessoas no combate aos potenciais homicídios em massa em Uganda. Seu nome é Kasha Jacqueline, e ela foi uma das apresentadoras do Oslo Freedom Forum deste ano.

Chegando à Noruega, ela foi abordada por membros de uma das organizações de defesa de gays e lésbicas de Oslo, que lhe recomendaram não falar no Oslo Freedom Forum porque eles discordavam da nossa inclusão de vários palestrantes que eram críticos ferrenhos de ditaduras de esquerda. Lamentavelmente, alguns em Oslo acreditam que apenas quem é de esquerda pode se autoproclamar defensor dos direitos humanos. Suas incoerências normalmente se manifestam quando ignoram os crimes cometidos pelos governos que eles apoiam (como quando eles ignoram os presos políticos de Fidel Castro ou de Hugo Chávez).

Apenas alguns dias depois, a inclusão de Kasha Jacqueline no programa do Oslo Freedom Forum foi um dos motivos da reprovação de um ativista pró-vida americano. A ironia era gritante por tratar-se de alguém que devota sua vida ao que ele considera que é parar os assassinatos ¿em massa¿ de bebês, e que ao mesmo tempo condena um evento por incluir uma pessoa que quer parar os assassinatos ¿em massa¿ de gays e lésbicas.

Tal esquerda, querido leitor, qual direita. Elas se merecem.