Título: Com chuvas, inflação de alimentos deve ir a 16%
Autor: Lignelli, Karina; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 13/01/2011, Economia, p. 20

Efeito é agravado por alta das `commodities¿. No Rio, varejistas pensam em alternativas

SÃO PAULO e RIO. Os impactos das fortes chuvas que castigaram o Rio e São Paulo começam a chegar à inflação. Os alimentos, principalmente legumes e verduras, são os mais afetados. Levantamento feito pela LCA Consultores aponta que a alta nos preços dos alimentos deve chegar a 16,5% neste primeiro trimestre, embora em alguns produtos os aumentos possam ultrapassar 100%.

No Rio, varejistas estudam alternativas para abastecer o mercado carioca de hortaliças, pois 90% da produção é oriunda da Região Serrana, fortemente afetada pelas chuvas. A rede Hortifruti, por exemplo, informou em nota que, ¿para minimizar o comprometimento no abastecimento de folhagens nas lojas, estamos buscando alternativas com produtores de outros estados¿.

O Ceasa admite que os preços deverão subir e muitos produtos podem faltar nos próximos dias. De acordo com a assessoria do centro de abastecimento, só a partir de hoje será possível ter uma noção exata da extensão do prejuízo e eventual alta nos preços.

¿ O volume de chuvas preocupa e vai afetar os preços, mas não serão tão altos como 2010, quando a alta do trimestre chegou a 24,87% ¿ diz o economista Fábio Romão, da LCA, que lembrou que o grupo tem um peso de 0,2% no IPCA.

Mesmo com a base de comparação alta do início de 2010, observa ele, quando o volume de chuvas foi 40% superior à média histórica do período, a alta desses primeiros dias de janeiro já é bastante significativa. Porém, não apenas as fortes chuvas vão impactar a inflação dos alimentos. Existe uma pressão que deve aparecer no atacado no fim de janeiro e que depois vai atacar os preços no varejo, devido à alta das commodities no segundo semestre de 2010 e ao movimento especulativo do dólar.

Fiesp calcula perdas da indústria em R$3,4 milhões

O economista da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Flávio Godas, informa que os legumes e hortaliças mais sensíveis, como rúcula, agrião, alface, brócolis, couve-flor e abobrinha, já subiram 15% em média, em janeiro. Em alguns itens, a alta registrada chegou a 60%.

¿ Os produtos perdem qualidade, muitos apodrecem, há redução de volume, e o reflexo é o aumento de preços ¿ avalia, lembrando que a previsão é de alta até o fim de fevereiro. ¿ Não dá para estimar de quanto será essa alta porque o clima é imprevisível, mas muitos itens chegam a dobrar de preço.

Ele diz que só na primeira semana os preços das hortaliças subiram 10%. Em contrapartida, frutas e pescados devem ter preços estáveis em janeiro e fevereiro. Para ele, o ideal é comprar frutas em plena safra, como melão, melancia, uva, pêssego, maracujá e banana.

Levantamento da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) com 478 empresas da Região Metropolitana paulista mostra que as perdas com as chuvas geram perdas da ordem de R$3,4 bilhões mensais ao setor. De acordo com a pesquisa, mais da metade das empresas apontaram como principais problemas deste período do ano o atraso nas entregas de produtos, ausência e atraso de pessoal nas linhas de produção.