Título: Emergência: há 40 anos no papel
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Fonte: O Globo, 14/01/2011, Opinião, p. 6

Uma comissão do Clube de Engenharia se deteve durante alguns meses sobre um projeto para o Rio elaborado na década de 70, pela antiga Sursan: o Túnel Extravasor, que chegou a ser iniciado em 1971 pelo governo Negrão de Lima, Raymundo de Paula Soares. Depois de atualizado, o projeto foi encaminhado ao prefeito Eduardo Paes para implementação em caráter de emergência, ainda no primeiro semestre de 2010.

A concepção do projeto é a captação das águas excedentes que transbordam as calhas dos rios Joana, Maracanã, Trapicheiros, Macacos, Rainha I e Rainha II e transportá-las através de um túnel - denominado Túnel Extravasor - para despejo final em mar aberto, no costão do Vidigal.

É importantíssimo observar que:

1. Os rios Joana, Maracanã e Trapicheiros deságuam no Canal do Mangue, que tem destino final na Baía de Guanabara. Quando transbordam, inundam toda a região do Maracanã e, por gravidade, as águas se deslocam pela superfície e inundam a Praça da Bandeira. Há registros de inundações ocorridas no início do século XX.

2. O Rio Macacos é o responsável pelas repetidas inundações do Jardim Botânico. O Rio Macacos deságua na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde também temos registros de enchentes.

3. Os rios Rainha I e Rainha II são os responsáveis pelas inundações na Praça Sibélius. Sua nascente se localiza na Rocinha (vertente Lagoa), dividindo-se em dois córregos no vale da PUC. Há grande perda de carga ao tomar a direção da Rua Visconde de Albuquerque, sentido Praia do Leblon, onde deságua.

A construção do Túnel Extravasor irá transferir diretamente para o mar as águas excedentes que inundam logradouros já sobejamente conhecidos como locais sujeitos às enchentes.

Em 1971 foi iniciada a construção do túnel, a partir da Avenida Niemeyer, depois paralisada. Em 1989, as obras recomeçaram, e foram novamente paralisadas no governo Leonel Brizola. Já há aproximadamente 1,5 quilômetro de escavação em rocha e a frente do túnel está sob a Rua Marquês de São Vicente. Mas esqueceu-se o projeto do Túnel Extravasor. Outros entraram em discussão - como piscinões e pequenos túneis, para conduzir águas ao Canal do Mangue e ao Cais do Porto, sujeitos à influência das marés altas, que podem barrar o escoamento. São soluções parciais. A solução definitiva para o problema das enchentes é o Túnel Extravasor.

FRANCIS BOGOSSIAN é presidente do Clube de Engenharia do Rio.