Título: Após dois anos, Banco Central volta a atuar no mercado futuro de dólar
Autor: Duarte, Patrícia; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 14/01/2011, Economia, p. 20

EFEITO CÂMBIO: Terceira medida do governo Dilma quer evitar moeda mais forte

Para conter alta do real, leilão de swap cambial reverso hoje pode atingir US$1 bi

BRASÍLIA e RIO. Depois de quase dois anos, e com o objetivo de evitar que o dólar perca mais força ainda frente ao real, o Banco Central (BC) voltará hoje a realizar os chamados leilões de swap cambial reverso. Na prática, essa ação equivale a uma compra futura de dólares, instrumento que vinha sendo defendido também pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como uma arma para evitar mais distorções no mercado de câmbio. Quando a autoridade monetária compra dólares, ela pressiona a alta da cotação.

O primeiro leilão está marcado para hoje e pode chegar a US$1 bilhão, depois de o BC ter feito uma pesquisa de interesse do mercado ontem à noite. A última vez que um swap cambial reverso foi utilizado foi em 5 de maio de 2009, na crise internacional.

O BC quer voltar a atuar no mercado futuro de câmbio, o principal formador dos preços das moedas. E essa tendência se acentuará ainda mais. Isso porque, na semana passada, o BC anunciou uma medida que limitou, por meio da imposição de compulsórios, a posição cambial vendida dos bancos. Esta ocorre quando as instituições apostam numa valorização cambial.

Sob a batuta da presidente Dilma Rousseff, o governo elevou o tom do discurso para deixar claro que fará as ações necessárias para evitar mais fraqueza do dólar. Esta é a terceira medida com este objetivo em 13 dias de administração. Além da limitação de posição vendida dos bancos, a Fazenda regulamentou o uso do Fundo Soberano do Brasil na compra de dólares.

O BC, no entanto, resistia em realizar esses leilões por causa dos elevados custos. Pelos contratos, a autoridade monetária paga a variação da Selic - hoje 10,75% ao ano - e recebe a variação cambial.

Analista: tendência não muda. Dólar volta a cair, a R$1,669

No leilão de hoje, o BC colocará à disposição do mercado 20 mil contratos, de US$50 mil cada um. Serão três mil contratos com vencimento em 1º de abril de 2011, sete mil para 1º de julho de 2011 e 10 mil para 2 de janeiro de 2012. Todos esses contratos podem, se o BC quiser, ser rolados. Hoje, não existe nenhum swap cambial reverso na carteira da autoridade monetária.

Para o diretor de Câmbio da Corretora Renova, Carlos Alberto Abdala, a decisão do BC de realizar um leilão de swap cambial reverso traz um certo equilíbrio, mas não muda a direção do mercado de câmbio.

- A medida ameniza a queda do dólar, mas não consegue mudar a tendência - diz Abdala.

Ontem, o dólar fechou em queda de 0,47% no mercado brasileiro, a R$1,669, acompanhando o movimento de outros países. Foi feito um leilão de compra de dólares no mercado à vista, no qual o BC comprou, segundo o mercado, algo entre US$150 milhões e US$200 milhões.