Título: Obama de 2008 volta em discurso no Arizona
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 14/01/2011, O Mundo, p. 26

Analistas dizem que presidente acertou o tom ao criticar polarização, e já preveem aumento da popularidade

WASHINGTON. No eco imediato dos disparos em Tucson, no Arizona, que causaram seis mortes e 14 feridos ¿ entre eles a deputada Gabrielle Giffords ¿ os americanos passaram a se perguntar sobre quais seriam as palavras usadas pelo presidente Barack Obama na abordagem da tragédia diante de uma nação em choque. Ontem, após seu discurso de quarta-feira no culto em memória às vítimas do tiroteio, na Universidade do Arizona, parecia haver um consenso nacional: entre a emoção e a razão, Obama acertou o tom, e lembrou algo do candidato que eletrizou os eleitores durante a campanha presidencial de 2008.

O clima político extremado e polarizado, acusado como indiretamente responsável pelo ataque no Arizona, provocou uma expectativa em relação à atitude presidencial. Obama excluiu a radicalização política nos EUA como causa da chacina e relevou a necessidade de um discurso de civilidade nos debates no país. Para o historiador James Hershberg, da Universidade George Washington, a mensagem presidencial foi eficiente.

¿ Não ficarei surpreso se houver um novo crescimento de seus índices de aprovação, que hoje já não são ruins se comparados aos dos presidentes Ronald Reagan e Bill Clinton na metade de seus mandatos. Mas ele precisará melhorar para chegar em boas condições de disputa na eleição presidencial de 2012.

Ontem, uma pesquisa do instituto de opinião da Universidade de Quinnipiac apontou índice de aprovação presidencial de 48%, o maior desde os 50% registrados na sondagem de outubro de 2009. Segundo Hershberg, o discurso de Tucson poderá ajudar Obama a recuperar votos de grupos independentes, formados por eleitores flutuantes.

¿ Ele está num momento positivo. Acontecimentos como a tragédia de Tucson permitem a líderes alcançar uma nova estatura política. Muitas pessoas não gostavam de George W. Bush, mas passaram a apoiá-lo depois dos atentados de 11 de setembro. O mesmo com Reagan, no acidente da nave Challenger (1986).

Mensagem presidencial foi mais eficaz do que a de Palin

O historiador acredita ainda que Obama ¿saiu ganhando¿ em comparação ao discurso da ex-governadora do Alasca Sarah Palin, que criticou parte da mídia e analistas por ¿incitamento ao ódio e à violência¿ com acusações contra ela e o movimento ultraconservador Tea Party após a tragédia de Tucson.

Stephen Hess, especialista do Instituto Brookings e conselheiro das Presidências de Gerald Ford e Jimmy Carter, não concorda com comparações do ocorrido em Tucson com as tragédias nos anos Reagan e Bush, nem acredita que este seja o ¿momento Oklahoma¿ de Obama ¿ em referência ao ataque terrorista de 1995, com 168 mortes, no governo de Bill Clinton.

¿ Não é um momento fundador da História americana nem da Presidência de Obama, mas concordo que o discurso de Tucson poderá colaborar, a curto prazo, a fazer o debate político avançar.

Para o especialista, será crucial democratas e republicanos alcançarem um acordo nas questões de déficit e orçamento públicos, em discussão futura na Câmara.

¿ Se Obama conseguir tratar disso com sucesso em seu discurso do Estado da União no Congresso, no dia 25, acredito que se abrirá uma pequena janela de oportunidades políticas antes que comece a esquentar a campanha Presidencial de 2012. E, neste sentido, acho que sua fala em Tucson ajudou.