Título: Brasil cobrou comunicação dos EUA nas ações pós-terremoto no Haiti
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 15/01/2011, O Mundo, p. 31

Alvo de críticas pela falta de coordenação entre Brasil, Estados Unidos e a ONU, o tráfego aéreo do aeroporto de Porto Príncipe foi tema central da pauta de cooperação entre brasileiros e americanos nos esforços de ajuda às vítimas do terremoto que devastou o Haiti no ano passado. Segundo telegramas diplomáticos revelados ao GLOBO pelo WikiLeaks, apesar de ambos os países destacarem o sucesso da parceria, o governo brasileiro reclamou da falta de comunicação com os americanos.

Dez dias após o sismo, a vice-chefe da missão americana em Brasília, Lisa Kubiske, informou a Washington que apesar de autoridades em Brasília se mostrarem satisfeitas, o subsecretário do Itamaraty para a América Latina, Antônio Simões, insistiu em "mais comunicação", sugerindo a nomeação de um oficial do Departamento de Estado ou da Casa Branca para ficar encarregado de informar sobre todas as manobras americanas a outros envolvidos nas operações.

"Ele pediu melhorias nos canais de comunicação para que nem o Brasil ou a Minustah (a força de paz da ONU ao Haiti) sejam surpreendidas pelas ações americanas. Observou que o tamanho das ações do contingente dos EUA poderia criar problemas, como rumores de uma ocupação americana do Haiti", afirmou a diplomata.

Em outro relato, na mesma data, a americana explica que, para Simões, boatos sobre desavenças e descontrole no tráfego aéreo do Haiti eram fruto das reservas sul-americanas diante da intervenção dos EUA.

"Ele observou que a mídia de certos países como Venezuela, Equador e Bolívia, estava tentando explorar a presença americana e pequenos incidentes para criar atritos entre nós".

Num comentário intitulado "Desejo de mais coordenação por trás dos sorrisos", Kubiske, no entanto, admitiu um atrito - velado - entre os dois países.

"Os encontros foram amigáveis e produtivos. Claramente, passamos a encruzilhada da fricção anterior, causada pelos problemas de coordenação no aeroporto de Porto Príncipe".

Em 18 de fevereiro, a embaixada americana deixou escapar uma crítica. Diante das queixas do chefe do Departamento de América Latina e Caribe no Ministério das Relações Exteriores, ministro Rubens Gama, de que o Brasil precisava de mais autorizações para pousos e decolagens no aeroporto de Porto Príncipe, a diplomata disparou:

"O Brasil cancelou mais pousos e decolagens do que qualquer outro usuário do aeroporto. Mesmo que tivesse mais autorizações por dia, só teriam recursos para usar três ou quatro na melhor das hipóteses."