Título: A face do futuro no desespero de brasileiros
Autor: Connor, Steve
Fonte: O Globo, 18/01/2011, Rio, p. 20
Chove no Brasil, chove na Austrália e chove no Sri Lanka. A chuva é o fator que une os três maiores desastres naturais em curso no mundo neste momento. As imagens do desespero de brasileiros, australianos e cingaleses unem o mundo no sofrimento causado por devastadores desastres naturais. Chuvas torrenciais afetando pessoas já vulneráveis ligam as três tragédias.
Cientistas enfatizam que ainda é prematuro ligar qualquer uma das três tragédias diretamente ao aquecimento global. Duas delas, as da Austrália e a do Sri Lanka, parecem estar conectadas ao fenômeno da La Niña. No Brasil, a causa parece ser a combinação de chuvas pesadas com casas construídas em encostas íngremes, um caso de falta de planejamento urbano.
Rápido desenvolvimento urbano, aumento da população e práticas urbanas precárias agravam o problema por toda parte. Mas, segundo cientistas, criam um cenário que, no futuro próximo, se tornará cada vez mais comum, à medida que o planeta fica mais quente em razão da ação do homem.
Para especialistas, os desastres climáticos vão se tornar cada vez mais frequentes. Desde 1975, eles já mataram 2,2 milhões de pessoas. Um relatório da ONG Oxfam calcula que, por ano, cerca de 250 milhões de pessoas são afetadas por desastres naturais, principalmente climáticas.
A Oxfam estima que em 2015 esse número crescerá em 50%. Daqui a quatro anos, mais de 375 milhões de pessoas poderão ser afetadas por ano por desastres climáticos. Em parte por causa do aquecimento do planeta, mas não só.
O mau planejamento urbano, mesmo em países como a Austrália, pode aumentar consideravelmente as consequências das chuvas, alertam pesquisadores. John Magrath, da Oxfam, destaca que não será surpresa, se cada vez mais gente nos próximos anos sofrer com enxurradas. E não será apenas por causa do aquecimento global que vamos experimentar eventos mais extremos.
¿ Estamos vendo mais gente afetada porque, não só há mais pessoas, quanto elas vivem pior, em regiões densamente povoadas e altamente instáveis. Já vemos mais desastres e isso não é nem o mais dramático do que preveem os estudos sobre o aquecimento global. O que vemos hoje é um total desequilíbrio ¿ frisou Magrath.