Título: Pesadelo sem fim
Autor: Merola, Ediane; Araujo, Isabel de
Fonte: O Globo, 17/01/2011, Rio, p. 10

Novo deslizamento provoca mais mortes em Petrópolis, na Região Serrana

Um novo deslizamento de terra na madrugada de ontem provocou a morte de três pessoas numa casa da localidade de Brejal, em Itaipava, distrito de Petrópolis. Com isso, o número de mortos na Região Serrana do Rio já chega a 634. Pelo quinto dia consecutivo, equipes do Corpo de Bombeiros, agora com o auxílio de três aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), fizeram buscas em Itaipava tentando localizar sobreviventes. Até a noite de ontem, 57 mortes haviam sido registradas na região.

- Esses helicópteros estão sendo usados para levar suprimentos e equipes de resgate até os locais isolados e também para o resgate de vítimas - explica o coronel Henry Munhões, que coordena os trabalhos da FAB, em Petrópolis.

A região de Itaipava vem sendo castigada pelas chuvas desde a madrugada de quarta-feira, quando uma tromba-d"água elevou o nível do Rio Santo Antônio, deixando um rastro de destruição em localidades como Vale do Cuiabá, Madame Machado e Brejal.

Bombeiros de Petrópolis chegaram ontem de manhã à região onde aconteceu o novo deslizamento, mas não havia condições de retirar as vítimas.

- Os corpos estão soterrados e a quantidade de lama no local é muito grande. Só será possível chegar a essas vítimas com o uso de máquinas - explicou o comandante do 15º Grupamento do Corpo de Bombeiros, coronel Souza Vianna.

Na região de Brejal, uma barragem ameaça romper, o que fez com que moradores que ainda estavam isolados deixassem o local antes mesmo da chegada das equipes de resgate, utilizando trilhas na mata.

Queda de barreira danifica adutora

Em Friburgo, um novo deslizamento, por volta das 13h de ontem, danificou a estação de tratamento de água Rio Grande de Cima e complicou o já precário abastecimento na cidade. Duas adutoras foram rompidas. Ninguém ficou ferido.

- Técnicos da Defesa Civil começaram a gritar que mais encostas cederiam, todos correram e foi um susto enorme. Por pouco ninguém se feriu - recorda-se o diretor da Águas de Nova Friburgo, Cláudio Abduche.

A situação é ainda mais crítica uma vez que os postes de energia elétrica que abasteciam as adutoras também foram derrubados.

Devido às chuvas e aos ventos em Friburgo, a Marinha teve que cancelar, na tarde de ontem, a missão do helicóptero Super Puma que transportaria dois motores, de cerca 500 kg cada, para a estação de tratamento de água de Rio Grande de Cima, responsável por 35% do abastecimento da cidade. A missão, considerada essencial para restabelecer o fornecimento de água da cidade, foi organizada pela Marinha a pedido do vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão.

A Polícia Militar decidiu montar ontem uma base estratégica na Ceasa de Conquista, bairro de Friburgo que faz fronteira com Sumidouro, para facilitar o acesso a pontos da Região Serrana que continuam isolados. Segundo o coronel James Barros, comandante do 11º BPM (Nova Friburgo), existem pelo menos 20 bairros da região completamente isolados, onde o acesso só é possível de helicóptero.

Cerca de 700 agentes da PM foram destacados para ajudar nas buscas. São policiais do Batalhão Florestal, do Bope, da Cavalaria da PM e do Grupamento Aéreo Marítimo (GAM).

- A situação está muito crítica. É impossível saber a extensão da catástrofe. Ainda existem muitos locais isolados. Há pontos em que avalanches levaram famílias inteiras e não tem quem reclame os corpos. Na minha equipe, estão atuando vários policiais que perderam parentes. Um deles perdeu o pai e a mãe. Todos os dias, meus homens chegam para ajudar a resgatar corpos e acabam chorando a perda dos seus - desabafa o comandante.

Cinco dias depois da tragédia, um Centro de Coordenação Operacional foi oficialmente montado em Teresópolis, com o objetivo de organizar os trabalhos de resgate. A coordenação geral do grupo ficará a cargo do prefeito Jorge Mario Sedlacek, que contará com o apoio técnico do Exército, da Força Nacional, da Marinha, das polícias Civil e Militar e de outros órgãos.

A primeira medida anunciada foi a decisão de controlar o espaço aéreo da região, onde cerca de 30 helicópteros estão operando. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito, esteve ontem em Teresópolis reunido com entidades de segurança pública, a pedido da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, ninguém decola para a cidade sem a autorização do prefeito.

- Não queremos prejudicar o trabalho de ninguém, queremos apenas que nossa ação seja mais produtiva. Hoje (ontem) mesmo vamos estabelecer corredores aéreos que deverão ser respeitados. Qualquer partida do Rio, por exemplo, dependerá de autorização - disse o general, que comandou as forças de paz no Haiti. - Precisamos criar um quartel general de ações coordenadas, para que não haja trabalhos individualizados.

Hoje, Teresópolis conta com uma tropa de 224 homens do Exército. A Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) e as polícias Civil e Militar também se uniram para fornecer apoio logístico permanente e, assim, ajudar a população.

No sábado à noite, uma equipe de resgate conseguiu chegar a pé à região de Santana, para salvar 20 pessoas. Como já era noite, eles permaneceram no local tratando dois feridos e, ao amanhecer, foram pegos por um helicóptero das Forças Armadas. Todos desembarcaram na Granja Comary, que está funcionando como base para os militares.

Hoje, os prefeitos de Teresópolis, Petrópolis e Friburgo farão uma reunião, às 11h, para tratar da criação de um consórcio intermunicipal, que unirá forças e fará a articulação política para a reconstrução das três cidades arrasadas pelas chuvas.