Título: No setor naval, faltam profissionais até para o alto mar
Autor: Beck, Martha; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 17/01/2011, Economia, p. 23

Marinha forma cerca de 350 oficiais por ano. Mas só a Transpetro precisará de 1.700 marítimos até 2013

O setor naval já vive um apagão de mão de obra de marinheiros para trabalharem nos navios petroleiros e nas embarcações de apoio às plataformas. O cenário tende a se agravar, já que a exploração e a produção de petróleo vão aumentar com o desenvolvimento dos campos no pré-sal. O alerta vem da Transpetro. A subsidiária da Petrobras prevê a necessidade de contratar 1.700 novos marítimos até 2013 - um aumento de 76% em relação aos atuais 2.232. Só em 2010, a estatal, que está encomendando na indústria nacional 49 navios, contratou 112 novos marítimos.

Além da Transpetro, empresas privadas já reclamam da pouca oferta de profissionais da marinha mercante, que trabalham nos navios, como os oficiais de náutica (comandantes e pilotos), os técnicos certificados (contramestre), os marinheiros de convés e os taifeiros (espécie de faz tudo). Isso acontece porque hoje apenas a Marinha do Brasil pode formar os oficiais de náutica no Brasil. E há apenas dois centros de instrução (a Ciaga, no Rio de Janeiro, e a Ciaba, no Pará), que formam juntos cerca de 350 novos oficiais a cada ano.

Gisela Mac Laren, presidente do estaleiro Mac Laren Oil, está otimista com o crescimento do setor, que está investindo R$12 bilhões. Ela, porém, ressalta que é preciso estar atento aos problemas.

- A navegação sofre com a falta de profissionais. O Brasil deveria seguir o exemplo de outros países e permitir que escolas particulares ofereçam a formação. Isso tem de ser mudado. As projeções de crescimento são muito altas - sugere Gisela.

Um navio pode ter de oito a 18 tripulantes e precisa ter no mínimo duas tripulações já que cada turno de trabalho é seguido por idêntico período de descanso. É de olho nesses números que a Transpetro está desenvolvendo com a Marinha, os sindicatos e o governo federal um plano de ampliação e melhorias nos centros de formação do Rio e do Pará.

Luiz Maurício Portela, presidente do Grupo Fischer, ressalta a falta de oficiais de náutica como um dos gargalos do setor:

- A demanda da Petrobras é tão grande que não tem como atender. Hoje, há 300 navios em operação. E até 2020 há necessidade de outros 200 navios. E não adianta falar de crescimento do setor, de ter recursos técnicos, se não há pessoal.

Foi por isso que o oficial de máquinas Irade Pacheco Filho voltou ao setor naval, aos 52 anos, e ganhando mais do que na indústria farmacêutica, para a qual migrou em 1997 após deixar a Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro em 1994, empresa extinta três anos depois.

O retorno foi motivado pelos colegas da marinha mercante, que insistiam que o setor estava repleto de oportunidades devido à falta de mão de obra. Para retornar ao setor, Pacheco fez uma atualização de três meses, como se fosse um estágio, dentro de navios da Transpetro. Depois desse período, assinou contrato com a estatal, onde trabalhou por um ano e meio.

OSX, de Eike Batista, cria instituto de capacitação

Como a rotina era pesada, passando até quatro meses no mar, Pacheco decidiu trocar. Foi trabalhar na Wilson, Sons.

- Foi a melhor coisa que eu fiz. Soube aproveitar a oportunidade. Mudei no momento certo e não estou arrependido - conta Pacheco, que hoje navega em rebocadores praticamente só na Bacia de Campos.

A OSX, do empresário Eike Batista, está criando o Instituto Tecnológico Naval (ITN) para capacitar mão de obra em toda a cadeia do setor. Segundo Luiz Eduardo Carneiro, diretor-presidente da OGX, a intenção do projeto é suprir toda a carência atual de profissionais:

- Contratamos muitos aposentados que hoje ensinam os mais jovens. Estamos conversando com faculdades e cursos técnicos, além de montar laboratórios de treinamento.

A escassez de mão de obra no setor naval não se restringe aos marítimos, que operam os navios, mas também aos profissionais de empresas contratadas pela Petrobras para trabalharem embarcados nas plataformas. Analista de RH da Forship, empresa prestadora de serviços de engenharia, Larice Vieira disse que a companhia encontra dificuldades para contratar trabalhadores como técnicos e mecânicos especializados em serviços de plataformas.

- Temos dificuldade em contratar mão de obra qualificada. Realizamos cursos de especialização para a formação de pessoal, e vamos contratar mais - disse Clarice.