Título: Aposta errada
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Fonte: O Globo, 17/01/2011, O Mundo, p. 27

A sabedoria do Ocidente ao estabelecer ligações de contraterrorismo com líderes árabes de má reputação em matéria de direitos humanos está sob escrutínio depois da expulsão, na Tunísia, de um presidente que retratava a si mesmo como um baluarte contra a al-Qaeda.

Ativistas democratas no Oriente Médio há muito vêm criticando o Ocidente pelo aumento da cooperação com os serviços de segurança árabes depois do 11 de Setembro, alegando que o preço implícito exigido pelos líderes da região era o silêncio ocidental sobre seus governos frequentemente venais e brutais.

Segundo analistas, a disposição do Ocidente de comprometer valores democráticos em prol da inteligência sobre os militantes islâmicos alimentou um ressentimento no mundo árabe, que é explorado por grupos de oposição, assim como pela al-Qaeda.

Grupos da sociedade civil afirmam que governos com boas relações com Estados Unidos e Europa Ocidental são alguns dos mais obstinados oponentes da democracia, reprimindo grupos pacíficos islâmicos que buscam chegar ao poder através da democracia. Os líderes árabes aprenderam que o preço por ignorar as lições ocidentais sobre direitos humanos tem sido muito pequeno.

Francis Ghiles, pesquisador senior do Instituto de Barcelona para Assuntos Internacionais, disse que, embora ninguém espere para logo uma mudança dramática na política de segurança ocidental, uma nova reflexão se faz urgente. ¿Nós temos de tirar essa análise idiota de nossas mentes ¿ que a coisa se resume a `ou repressão ou al-Qaeda¿. O mantra da batalha contra o terrorismo islâmico significou que nós fechamos os olhos nos últimos 10 anos para o que esses governantes estão fazendo, muito mais do que costumávamos¿, disse ele.

Uma transição estável para um governo representativo na Tunísia, após a remoção de Zine al-Abidine Ben Ali, poderia funcionar como ¿um laboratório¿ para a renovação da política árabe, acredita Ghiles. Isso, continua, ofereceria um poderoso exemplo de mudança que poderá preparar o Ocidente para ser mais firme em relação aos direitos humanos.

WILLIAM MACLEAN é correspondente de segurança da agência Reuters