Título: Câmbio vai dominar agenda da visita do presidente chinês a Barak Obama
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 19/01/2011, Economia, p. 27
Mas, para analistas, valorização do yuan não ajudaria economia dos EUA
NOVA YORK. O presidente da China, Hu Jintao, desembarcou ontem em Washington para uma visita de Estado de três dias, na qual negociará com Barack Obama uma complexa pauta que expõe a rivalidade e a dependência mútua das duas maiores economias do mundo. A guerra cambial, com a desvalorização artificial da moeda chinesa, é o tema mais importante, mas analistas e empresários esperam avanços em garantias à propriedade intelectual, acesso a mercados e transferência de tecnologia.
Nesse encontro, ambos os lados tentarão evitar deslizes que custem popularidade aos dois presidentes, que enfrentarão processo sucessório em 2012. Hoje Obama e Hu têm uma reunião de trabalho, seguida de entrevista coletiva ¿ exigência dos EUA, tolerada por Hu, avesso a perguntas diretas de repórteres. À noite, haverá um banquete de Estado, com toda a pompa, algo que faltou na visita de 2006, no governo George W. Bush, o que incomodou os chineses.
Empregos iriam para outros emergentes, diz professor
A pressão política é forte, especialmente pelo Congresso dos EUA, que critica a desvalorização artificial do câmbio chinês. Com o desemprego perto de 10%, os políticos americanos argumentam que haveria mais empregos nos EUA se houvesse mais equilíbrio no câmbio. Mas analistas relativizam o peso de uma mudança da política cambial chinesa na economia americana.
¿ Este é um assunto mais político que econômico. A China importa matérias-primas e exporta produtos industrializados. Se a cotação do yuan mudar, o preço das importações cai, e eles continuam com preços competitivos no mercado americano ¿ diz Daniel Ikenson, diretor do Centro de Estudos de Políticas de Comércio do Instituto Cato, de Washington.
¿ Uma mudança na política cambial não teria os efeitos positivos para a economia ou os empregos americanos que as pessoas imaginam. Os ganhos de uma apreciação mais rápida do yuan iriam mais para outros países em desenvolvimento ¿ completa Mark Wu, professor da Universidade de Harvard.
Segundo Wu, o emprego industrial de baixa qualificação que foi para a China não iria para os EUA, e sim para outros países de mão de obra barata, como Indonésia e Vietnã.
Para especialistas, os pontos mais importantes das relações comerciais bilaterais são a garantia da propriedade intelectual, o combate à pirataria na China, o acesso aos mercados e às licitações do governo chinês, e termos confiáveis para a transferência de tecnologia. As empresas americanas se queixam da chamada ¿inovação nativa¿, que limita as compras de produtos estrangeiros a itens criados na China.
Hu se reúne amanhã com líderes do Congresso e deve ouvir queixas: três senadores democratas apresentaram um projeto de lei para punir a China pela manipulação da moeda. Antes de embarcar, ele disse aos jornais ¿Wall Street Journal¿ e ¿Washington Post¿ que a predominância do dólar como moeda internacional é ¿coisa do passado¿.
Mas os americanos reconhecem a força da China. Pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto Pew revela que 47% deles apontam a Ásia como a região mais importante para os EUA. A Europa ficou com 37%. E a China é hoje a potência econômica que lidera o mundo para 47% dos entrevistados ¿ os EUA ficaram com 31%.
Essa força pode ser vista nos empréstimos da China a outros emergentes, que, segundo o jornal britânico ¿Financial Times¿, nos últimos dois anos superaram os do Banco Mundial (Bird). Foram US$110 bilhões da China nesse período, contra US$100,3 bilhões do Bird.