Título: Dilma não menciona Sakineh em nota ao Irã
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 19/01/2011, O Mundo, p. 31

Presidente diz a deputada iraniana que direitos humanos têm lugar central na política externa

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff reafirmou ontem seu compromisso com a defesa dos direitos humanos ao receber uma carta enviada pela deputada Zohreh Elahian, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Parlamento do Irã. Sem entrar em detalhes sobre o teor da correspondência e, principalmente, sem mencionar o caso da iraniana condenada à morte Sakineh Mohammadi Ashtiani, a presidente respondeu através de uma nota pública, na qual "reitera a disposição de continuar conferindo à questão dos direitos humanos um lugar central na política externa, sem seletividade e tratamento discriminatório".

Presidente agradece interesse no diálogo

"É muito positiva a disposição da deputada Zohreh Elahian de realizar um amplo intercâmbio de opiniões por meio dos canais adequados", afirma a nota da presidente, sugerindo, ainda, que "um diálogo com as comissões de Direitos Humanos do Congresso brasileiro poderá ser de grande utilidade".

A carta foi levada até Dilma pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. A carta chegou anteontem ao Palácio do Planalto e foi traduzida para o português antes de ser entregue à destinatária.

Em sua resposta, Dilma também agradece os cumprimentos da parlamentar por sua eleição à Presidência, as informações que constam na mensagem e "o interesse em contribuir para um diálogo construtivo entre os dois países sobre temas bilaterais e multilaterais".

O nome de Sakineh Ashtiani, pivô de ampla mobilização internacional para evitar sua condenação à morte por adultério e pelo suposto envolvimento no assassinato do marido, não apareceu. Dois dias antes, a agência iraniana estudantil Isna provocara alvoroço ao garantir que, na carta enviada à brasileira, a deputada iraniana informava que a pena de Sakineh teria sido comutada para dez anos de prisão - o que já foi desmentido por fontes do Judiciário iraniano. O governo brasileiro também não confirmou a informação.

Ainda segundo agências internacionais, a deputada teria feito duras críticas à presidente por suas declarações sobre os direitos humanos no Irã. Logo depois de eleita, Dilma condenou a pena de apedrejamento para punir adultério e afirmou que a punição imposta a Sakineh era bárbara.