Título: Brasil segue com taxa real mais alta do mundo
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 20/01/2011, Economia, p. 27

Com o aumento da Taxa Selic ontem, o Brasil permanece na liderança isolada do ranking dos países com os maiores juros reais no mundo. O país tem agora uma taxa de 5,5% ao ano, descontada a inflação pelo IPCA projetada para os próximos 12 meses. E essa liderança acontece com uma larga vantagem: o segundo colocado, a Austrália, tem 1,9% de juro real ao ano. Na terceira posição está a África do Sul, com 1,8% anual, de acordo com dados compilados por Jason Vieira, da corretora Cruzeiro do Sul.

Para sair do topo do ranking de juros, o Brasil precisaria cortar a Selic em 3,5 pontos percentuais. Ou seja, reduzir a taxa dos atuais 11,25% para 7,75% ao ano, segundo a corretora. Nesse cenário, o país ficaria atrás de Austrália e África do Sul. Mas especialistas veem como muito remota a possibilidade de isso ocorrer a curto prazo por causa da aceleração da inflação.

O economista Celso Toledo, da LCA Consultores, explica que o aumento dos juros vem sendo usado pelos bancos centrais como remédio para a alta da inflação. É o caso recente de China, Índia, Rússia, Tailândia e Coreia do Sul. Em comum, o fato de serem países emergentes e terem um ritmo de crescimento muito acelerado de suas economias:

- São países superaquecidos, que estimularam a economia doméstica no passado e agora precisam retirar parte dos incentivos. O Brasil já está avançado nesse processo, porque elevou juros no primeiro semestre de 2010 - diz ele.

Inflação ainda elevada limita os efeitos da alta de juros em diversos países

Os efeitos do aperto monetário têm sido, no entanto, limitados pela própria aceleração da inflação. É o caso da Rússia. Embora tenha a quarta maior taxa nominal no mundo (7,75% ao ano), os juros reais estão negativos em 1%. Isso porque a expectativa de inflação para os próximos 12 meses está acima de 8%.

- Quando a inflação avança mais que os juros, o efeito da política monetária é limitado. Não se consegue conter o aquecimento da economia. Os BCs precisam ter credibilidade para convencer a o mercado de que a inflação não vai subir - diz Roberto Padovani, estrategista-sênior do banco WestLB do Brasil.

Dos 40 países listados pela corretora Cruzeiro do Sul, somente 12 estão atualmente com juros reais positivos. Por isso, países também têm adotado medidas menos ortodoxas para conter a inflação, principalmente dos alimentos. A Índia proibiu a exportação de cebola, enquanto a Rússia vetou embarques de trigo. Já a China quer controlar preços como o do óleo de cozinha.

- Os países estão sendo afetados como um todo pelo forte aumento dos preços dos alimentos. Mas apenas alguns tomaram medidas tão pontuais que chegam a ser demagógicas. Inflação é um conceito mais abrangente de preços - diz Carlos Langoni, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretor do BC.

A aceleração de preços em países emergentes contrasta com os baixos índices de inflação na Europa e nos Estados Unidos, que ainda não se recuperaram da crise global. Entre os menores juros reais estão Inglaterra (-3,1%), Grécia (-4%) e Dinamarca (-2%), por exemplo.