Título: EUA e China fecham acordo de US$45 bi, mas não avançam na questão do câmbio
Autor: Godoy , Fernanda
Fonte: O Globo, 20/01/2011, O Mundo, p. 36

NOVA YORK. O presidente Barack Obama assumiu o posto de "vendedor-em-chefe" dos produtos americanos e festejou os acordos bilaterais que resultarão em exportações de US$45 bilhões para a China. Embora não tenha ocorrido avanço concreto na questão cambial e os EUA continuem reclamando da desvalorização artificial da moeda chinesa, Obama disse acreditar que a cotação do yuan passará por ajustes graduais e será cada vez mais determinada pelo mercado, e não por intervenções do governo.

- Quando olhamos para o futuro, o que é necessário, creio, é um espírito de cooperação que também seja de competição amistosa - disse Obama, que afirmou querer vender "aviões, carros, tudo" para os chineses.

Grandes empresas participam de reunião com presidentes

Obama destacou que uma cotação mais forte do yuan favoreceria não apenas os exportadores americanos, mas o mercado interno chinês, resultando em maior poder aquisitivo para os milhões de cidadãos que estão saindo da pobreza com o desenvolvimento do país.

Dirigentes de 12 grandes e importantes empresas, incluindo Boeing, GE e Coca-Cola, participaram do encontro com os dois presidentes. Obama e Hu Jintao avançaram no diálogo sobre uma série de questões que interessam aos empresários americanos que têm negócios na China, como a defesa da propriedade intelectual, o combate à pirataria, e a reserva de mercado especiais para produtos originalmente criados na China.

- Os dois lados devem adotar uma perspectiva de longo prazo, buscando um denominador comum para resolver as diferenças - disse Hu Jintao.

A China se comprometeu às garantias da propriedade intelectual, um tema considerado chave pelos empresários americanos. As autoridades chinesas também responderam positivamente à demanda americana para que sejam diminuídas as restrições de compra, pelo governo, de produtos estrangeiros ou com patente estrangeira.

Pressionado internamente pela crise econômica que se arrasta desde 2008 e pelos elevados índices de desemprego, Obama destacou que o incremento nas exportações para a China garante 235 mil empregos nos EUA. Os dois presidentes pareciam preocupados em não dar a impressão de que estavam cedendo terreno ao concorrente.

Para Douglas Spelman, vice-presidente do Instituto Henry Kissinger, que estuda as relações entre Estados Unidos e China, ambos vivem situações delicadas, com processos sucessórios previstos para o ano que vem.

- Hu quer deixar um legado positivo na maneira de lidar com a relação bilateral mais importante para a China, mas ao mesmo tempo não pode parecer que está cedendo muito. Fatores semelhantes pesam sobre Obama, mas talvez o empurrem para ser mais duro, especialmente nos assuntos econômicos, que serão decisivos para sua tentativa de reeleição - disse o pesquisador. (F.G)