Título: China cresce 10,3% e bolsas caem
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 21/01/2011, Economia, p. 19

Expansão foi acima do previsto em 2010. Temor de alta de juros derruba ações

PEQUIM, NOVA YORK e RIO. A economia da China continuou acelerada no quarto trimestre de 2010 e a inflação deu apenas um leve alívio. Dados divulgados ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) da China cresceu 10,3% em 2010, ante 9,2% em 2009. No último trimestre do ano passado, a expansão do PIB foi de 9,8%, contra 9,6%, no terceiro trimestre de 2010.

Já a inflação do país em dezembro foi de 4,6%, ante 5,1% no mês anterior, o maior resultado em 28 meses.

Tanto o crescimento trimestral quanto o anual - que confirmaram que, em 2010, a China superou o Japão como segunda maior economia do mundo - ficaram acima das previsões. E mostraram que as medidas que o governo chinês adotou para levar o crescimento econômico para um patamar mais sustentável tiveram efeito limitado.

Aperto monetário reduziria demanda chinesa

Assim, economistas preveem que o governo chinês vai apertar ainda mais sua política monetária, o que poderá inclusive levar a uma valorização do yuan frente ao dólar. Os analistas acreditam que Pequim não só elevará a sua taxa básica de juros, como deve adotar novas medidas macroprudenciais, como a elevação do compulsório dos bancos.

Essa percepção afetou os mercados financeiros mundiais. Os preços do petróleo e de outras commodities, assim como das ações das empresas que os produzem, recuaram. O barril do petróleo do tipo leve americano caiu 1,41%, para US$89,45. A demanda chinesa por commodities tem sido um fator de pressão nos preços desses produtos. Um possível aperto monetário na China, portanto, reduziria essa demanda, o que derrubou os preços.

- Os investidores e companhias nesses dias estão de olho nessa história da demanda chinesa - disse Jack Ablin, chefe de investimentos do Harris Private Bank. - E qualquer coisa que afete essa demanda poderá ter efeitos nefastos.

Ibovespa cai 0,71%. Ações da Vale recuam 1,68%

As ações chinesas recuaram. O índice de Xangai perdeu 2,9%, e o Shenzhen, 3,4%. O Nikkei japonês caiu 1,1% e o Heng Seng, de Hong Kong, 1,7%. Na Europa, o FTSE londrino recuou 1,8%, o DAX, de Frankfurt, 0,83%, e o CAC-40, de Paris, 0,3%. O robusto crescimento chinês também afetou as ações em Wall Street. O Dow Jones fechou quase estável, com queda de 0,02%. O S&P 500 recuou 0,13% e o Nasdaq caiu 0,77%.

No Brasil, também, o temor de novas medidas do governo chinês para conter a expansão do país afetou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa, índice de referência do mercado, recuou 0,71%, aos 69.561 pontos, menor patamar deste ano.

- Um cenário de aperto monetário na China afeta a Bovespa via exportadores de commodities, como a Vale - explica Paulo Hegg, operador da Um Investimentos.

As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Vale recuaram 1,68%, a R$58,60. Já os papéis preferenciais (PNA, sem voto) caíram 1,06%, a R$52,12.

BC fará leilão de US$1 bi no mercado futuro de dólar hoje

A agência de classificação de risco Moody"s divulgou ontem um relatório afirmando que o Brasil pode ser afetado por uma queda da demanda da China. Mas mantém "perspectivas positivas" para o país e vai rever o rating do Brasil no segundo trimestre deste ano, atualmente em grau de investimento com nota "Baa3".

Ontem, o dólar comercial fechou em queda de 0,05%, a R$1,672. O Banco Central (BC) informou que vai realizar hoje, pela segunda semana seguida, um leilão de swap cambial reverso, que na prática significa uma intervenção no mercado futuro de câmbio. Serão oferecidos 20 mil contratos, num total de US$1 bilhão.