Título: Alívio para os exportadores
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 21/01/2011, Economia, p. 19

Governo vai desonerar setor produtivo. Ministro quer força-tarefa para lidar com avanço chinês

Oministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, vai sugerir ao Itamaraty a criação de um grupo interministerial voltado exclusivamente ao monitoramento das relações com a China - maior parceiro comercial do Brasil, mas uma de nossas principais fontes de preocupação, na briga por mercados e na guerra cambial. O objetivo da força-tarefa será a elaboração de uma estratégia de atuação junto a Pequim para defender o Brasil da onda chinesa e contra-atacar quando necessário. Ele antecipou ainda que o novo pacote de incentivos ao setor produtivo trará novas desonerações de impostos que incidem sobre as exportações.

Pimentel, que tratará do tema na segunda ou terça-feira que vem com o chanceler Antonio Patriota, está preocupado com a queda sucessiva dos superávits comerciais ao longo dos últimos anos. Uma de suas missões, disse, é recuperar as exportações brasileiras.

Aprovada a proposta de criação da força-tarefa, a ideia é que o plano estratégico seja fechado antes de abril, quando a presidente Dilma Rousseff viajará a Pequim. Como O GLOBO antecipou esta semana, no leque de ações, estão acordos comerciais e de investimentos com Pequim, como compensação aos danos concorrenciais provocados pelo país asiático.

Maior parceiro e fonte de problemas

Apesar de ser, hoje, o maior parceiro comercial do Brasil, com uma corrente de comércio (soma de exportações com importações) de US$56,4 bilhões em 2010, contra US$36,9 bilhões em 2009, a China tem sido um dos grandes responsáveis pela perda de competitividade de produtos brasileiros, afetados pela valorização do real frente ao dólar, enquanto o yuan está desvalorizado ante a moeda americana.

Desde que assumiu o cargo, o economista e ex-prefeito de Belo Horizonte enfrenta uma maratona diária de trabalho de mais de 12 horas. Sem esconder o jeito mineiro de fazer política, Pimentel evitou polemizar com o Banco Central (BC), que voltou a elevar juros, e entrar em detalhes sobre as novas desonerações. Explicou que quem deve falar é Dilma, de quem é amigo desde a faculdade. A seguir, os principais pontos da entrevista:

A EQUIPE: "Estamos montando uma equipe que conjuga três coisas fundamentais: a experiência no setor público, a juventude e a interface com o setor privado. Somos o ministério da indústria, não só do governo. Quero dizer ao empresário que vier ao meu gabinete: "Aqui é sua casa"."

CHINA: "Não sei se vamos conseguir o mesmo que os Estados Unidos ganharam na visita do presidente (da China) Hu Jintao a Washington, como a abertura do mercado chinês para manufaturados. Mesmo porque a relação entre chineses e americanos é quase simbiótica. São eles quem financiam o déficit americano. Mas vamos tentar. A China é, hoje, o principal personagem da cena comercial do mundo, e não pode ser tratada como um país igual aos outros. Vou conversar com o Patriota na segunda ou na terça-feira que vem e sugerir a criação de um grupo permanente de trabalho interministerial para elaborarmos uma estratégia, que leve em conta possíveis acordos a serem fechados e a revisão de acordos que já existem."

DEFESA COMERCIAL: "Vamos manter o que já fazemos, só que com um rigor maior, no sentido de buscar nossos direitos se (formos prejudicados por) qualquer país que pratica qualquer ato em desacordo com as normas internacionais de comércio."

SALDO COMERCIAL: "Precisamos recuperar a tendência de crescimento do saldo comercial. Estamos em decréscimo. Já tivemos US$50 bilhões de saldo, que depois caiu para US$25 bilhões. As estimativas para 2011 apontam para um superávit de apenas US$10 bilhões, um pouco mais, um pouco menos. Por isso, o conjunto de medidas em estudo (pacote de incentivo ao setor produtivo, previsto para fevereiro) vai contemplar o setor exportador, com redução de custos e novas desonerações."

PACOTE DE MEDIDAS: "O objetivo básico é destravar a economia brasileira. Em vez de ficarmos falando em ampla reforma tributária, vamos identificar os pontos onde de fato teremos (condições de trabalhar). Os estados terão de comparecer, fazer a parte deles."

JUROS X INFLAÇÃO: "A disciplina fiscal não é um fim em si mesmo; é um meio em que você tem condições de dar crescimento econômico com estabilidade, com distribuição de renda. Espero que a conjuntura seja passageira, porque juro alto ninguém quer, nem o Banco Central, nem o Ministério da Fazenda. Tenho certeza de que o Tombini (Alexandre Tombini, presidente do BC) concorda com isso. Sabemos que as chuvas geraram pressão inflacionária sobre os alimentos, além de outros fatores. Nosso objetivo é termos uma taxa de crescimento com sustentação, entre 4,5% e 5%."

INFRAESTRUTURA: "Não adianta a economia brasileira crescer se não temos infraestrutura e capacidade logística. Portos, aeroportos, estradas, tudo isso é fundamental para a produção e os embarques ao exterior."