Título: Hu tem recepção fria no congresso dos EUA
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 21/01/2011, O Mundo, p. 25

Uma fria recepção no Congresso dos Estados Unidos marcou o terceiro dia da visita do presidente da China, Hu Jintao, ao país rival. O chefe de Estado chinês se encontrou com os principais líderes parlamentares democratas e republicanos, que expressaram desagrado em relação a práticas comerciais vistas como prejudiciais aos interesses americanos, e criticaram o desrespeito aos direitos humanos na China.

¿ Expusemos nossa preocupação com os relatos de violações de direitos humanos na China, incluindo a falta de liberdade religiosa e o aborto coercitivo como consequência da política de filho único ¿ disse o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, um dos que recusaram o convite para o jantar de gala na Casa Branca em homenagem a Hu na quarta-feira.

Incentivo ao ensino de mandarim nas escolas

Em seu discurso para os parlamentares, Hu assegurou que a China prosseguirá na linha de abertura para o mundo, mas ressalvou que o Partido Comunista Chinês continua comprometido com a construção de ¿um país socialista moderno¿, e rejeitou interferências externas sobre assuntos como Taiwan e Tibete.

Segundo o relato de presentes, Hu se estendeu por 20 minutos numa resposta sobre a defesa da propriedade intelectual ¿ uma das principais reivindicações dos empresários americanos, insatisfeitos com o desrespeito às patentes na China ¿ o que limitou o número de perguntas.

O presidente chinês teria sido evasivo ao responder a um questionamento da líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, sobre a situação do prêmio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiaobo, que está preso. Mas teria prometido aos deputados trabalhar pelo desarmamento na Península Coreana, como já havia feito no encontro com o presidente Barack Obama, na véspera.

No Senado, Hu se encontrou com o líder da maioria democrata, Harry Reid, e com o líder republicano, Mitch McConnell, que tampouco compareceram ao banquete da véspera, e com expoentes na área de relações exteriores, como os ex-candidatos a presidente John McCain e John Kerry. Reid havia chamado Hu de ¿ditador¿ em entrevista a uma emissora de TV na terça-feira, mas voltou atrás.

Hu cobrou do Congresso o fim de barreiras ao comércio com a China, algo que os parlamentares disseram que poderia ser obtido dentro de um acordo mais amplo contemplando interesses americanos, como maiores garantias à propriedade intelectual.

Após a visita ao Congresso, Hu almoçou com um grupo de empresários e executivos de grandes empresas americanas, a quem assegurou que a China quer trabalhar em cooperação com os EUA para ¿a recuperação total da economia global¿.

¿ É normal que tenhamos alguns desentendimentos e atritos, mas devemos administrá-los com um sentido de responsabilidade ¿ disse Hu.

A última parada da viagem de Hu aos EUA seria em Chicago, para onde embarcou ontem à tarde. Na capital do estado de Illinois, que desenvolveu o maior projeto de ensino do mandarim nas escolas públicas americanas, Hu tinha uma visita programada à maior filial do Instituto Confúcio ¿ o equivalente chinês do espanhol Instituto Cervantes e do alemão Instituto Goethe ¿ dedicado à promoção do idioma e da cultura. Desde 2006, o governo chinês doou US$1,6 milhão à rede pública de Illinois para fomentar o ensino do mandarim.