Título: Copom mantém credibilidade do BC
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Fonte: O Globo, 22/01/2011, O País, p. 6

Como era esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu esta semana - na primeira reunião no governo Dilma - elevar em meio ponto percentual as taxas básicas de juros, para 11,25%. Alta de taxa de juros não é uma medida agradável e nem popular. Trata-se de uma iniciativa que tem impacto sobre a economia como um todo e, portanto, quando necessária, precisa ser adotada criteriosamente.

O Banco Central evitou o quanto pôde essa alta dos juros, mas ela se tornou inevitável diante da trajetória preocupante da inflação. Os índices de preços vêm se mantendo afastados do centro da meta (4,5%), embora ainda estejam dentro do intervalo de tolerância (entre 2,5% e 6,5%). É nesse momento que medidas devem ser adotadas pelas autoridades para evitar que a inflação escape do controle.

Há diversos fatores, domésticos e internacionais, pressionando a inflação. Matérias-primas, bens intermediários e commodities agrícolas continuam subindo no mercado externo, por conta do ritmo acelerado das economias emergentes. A própria China tem restringido o crédito internamente, na tentativa de desacelerar o seu crescimento, porque lá a inflação também não está mais dando trégua.

Fenômenos climáticos contribuíram para desequilibrar alguns mercados, e quase não existem no horizonte fatores deflacionários.

Mesmo se apresentando como continuidade da administração anterior, o governo Dilma assumiu se posicionando em favor da estabilidade monetária. A presidente, em várias ocasiões, chamou a atenção para uma conjuntura internacional mais difícil que o Brasil iria encontrar pela frente, exigindo atitudes mais cautelosas por parte do governo.

Isso envolverá uma política fiscal mais austera, com gastos públicos controlados e o cumprimento das metas de superávit primário, sem artifícios contábeis.

Os resultados práticos desta postura mais austera não serão imediatos. Até que se concretizem, a política monetária terá de ser mais apertada, e assim novas altas nas taxas de juros são esperadas.

Quanto mais rápido o governo der demonstrações de que a trajetória da política fiscal efetivamente mudou, e de que os gastos, a partir de agora, crescerão moderadamente, menos o Banco Central precisará acionar a política monetária.

Com as políticas monetária e fiscal complementando uma a outra, a economia brasileira conseguirá crescer nos desejados 4,5% a 5%, sem que essa expansão provoque pressões inflacionárias ameaçadoras e nem desequilíbrios preocupantes no balanço de pagamentos (contas externas).

Os agentes econômicos se sentirão mais seguros diante de demonstrações de responsabilidade por pare do governo. Por mais que a recente decisão do Copom tenha provocado críticas e protestos - como foi dito, alta de juros não é exatamente uma medida de caráter popular -, a iniciativa do Banco Central repercutiu bem nos mercados, pois afastou do cenário receios sobre a possibilidade de interferência política na sua esfera de atuação.

A autonomia operacional do BC tem sido fundamental para o bom desempenho da economia brasileira. E deve continuar.