Título: Cacife de interlocutor
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2009, Mundo, p. 26

A visita de Avigdor Lieberman deixou evidente que, do ponto de vista israelense, o Brasil é considerado o elemento capaz de desequilibrar a difícil partida disputada com a diplomacia iraniana pelos corações e mentes da América Latina. O chanceler israelense fará escalas também na Argentina, Colômbia e Peru. Mas é o governo Lula que tira o sono dos responsáveis pela região na chancelaria israelense ¿ mais ainda diante do anúncio, feito pela embaixada iraniana na véspera do desembarque de Lieberman, de que o Brasil será o primeiro país a ser visitado pelo presidente Mahmud Ahmadinejad no segundo mandato.

O gesto, por sinal, escancarou o interesse do Irã pela chancela do governo brasileiro, tanto mais oportuna agora que a reeleição de Ahmadinejad enfrenta questionamentos internos, e a dura repressão aos descontentes desencoraja acenos mais efusivos do exterior. Se Hugo Chávez e seus sócios do bloco bolivariano são aliados naturais para o regime de Teerã, o mesmo pode ser dito sobre Argentina e Colômbia, por exemplo, da ótica israelense. Daí o empenho de cada um dos rivais em ao menos neutralizar os avanços do outro.

Para a diplomacia brasileira, essa situação representa mais do que o reconhecimento de um papel mais relevante no Oriente Médio, nó górdio por excelência do feixe de crises globais. Na medida em que for visto como parte equidistante e independente, o Brasil terá cacife como interlocutor.