Título: Mercadante na berlinda
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/07/2009, Política, p. 4

Governistas avançam contra o líder petista na tentativa de enquadrar o partido no Senado

Líder do PT, Mercadante escreveu nota que desagradou o governo

O PT começou uma verdadeira guerra interna no que se refere ao apoio ao presidente do Senado, José Sarney (PT-SP). De um lado, o líder do partido, Aloizio Mercadante (SP), e a ala de senadores que não vê a hora de eleger um dos seus para comandar a Casa. De outro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e todos aqueles que veem uma tempestade muito pior à frente, caso a bancada petista abandone Sarney à própria sorte. O último movimento público do partido sobre o caso, a nota de Mercadante, foi o estopim dessa crise.

O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), saiu em defesa do presidente do Senado, na linha oposta àquela que Mercadante defendeu na sexta-feira. ¿Apoio integralmente a posição do presidente Lula contra o afastamento do presidente Sarney. E por várias razões. Primeiro, Sarney está investigando tudo. E, em segundo lugar, a movimentação do Senado deveria ser no sentido de aprofundamento da ética com investigação de tudo, no que se refere à Casa, inclusive todos os demais casos. E não uma campanha generalizada contra o presidente Sarney¿, disse Vaccarezza.

Mercadante afirmara na nota que considerava grave o teor das conversas do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, porque levantavam ¿indícios concretos da associação do presidente do Senado, José Sarney, em ato secreto de nomeação do namorado de sua neta¿. E, mais uma vez, reforçou a posição da bancada pelo afastamento de Sarney da Presidência da Casa. Vaccarezza não titubeou ao falar do assunto: ¿Uma coisa é a investigação que a Polícia Federal faz dos negócios do empresário. Outra coisa é o mandato do presidente Sarney¿, diz Vaccarezza, partidário da tese de que Sarney não mandaria fazer um ato secreto e, a rigor, os diálogos publicados não revelam isso claramente.

Ministros

Ontem, depois de Berzoini declarar ser contra o afastamento de Sarney, a reunião da coordenação do governo, comandada pelo presidente Lula e com a presença de vários ministros ¿ como Paulo Bernardo (Planejamento), José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda) ¿ reforçou o apoio ao peemedebista. ¿Avaliamos que essa nota não é o pensamento do PT¿, disse Múcio.

Na reunião, Lula disse que não é hora de fazer mais marola no Senado. Ele acha que seus senadores devem ajudar a resolver e não editar notas, como se fosse oposição ao PMDB. Ali, discutiu-se ainda a CPI da Petrobras, onde o governo deseja usar a sua maioria para enterrar qualquer pedido de investigação que extrapole os limites das denúncias listadas no documento oficial de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ocorre que o governo só terá uma maioria para chamar de sua dentro dessa CPI se o PMDB ficar ao seu lado. E, para garantir esse apoio do PMDB, o PT terá que dar a sua contrapartida, apoiando Sarney ou ficando à margem dessa discussão, deixando o papel de protagonistas nessa briga para o PMDB e a oposição.

Na próxima semana, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ingressa com representação oficial do partido contra Sarney no Conselho de Ética do Senado. Até então, a única representação formal foi a do PSol, que também é oposição.

veja comentário sobre crise no Senado com Denise Rothenburg

Personagem da notícia Contra a maré

O senador Aloizio Mercadante (SP) é tido hoje na cúpula petista como alguém que não deu sorte. Ele assumiu o cargo de líder da bancada em fevereiro, num clima perfeito para projetar a sua campanha pela reeleição em São Paulo. Prometeu fortalecer o PT e concentrar esforços na redução dos efeitos sociais da crise econômica internacional, como a criação de empregos, tema que defende com paixão e desenvoltura.

De crise, esperava, no máximo, ter de enfrentar CPIs, como a da Petrobras, onde o governo tem um discurso da valorização do estado na ponta da língua. Seus planos ruíram com a crise do Senado e, antes mesmo que Sarney pensasse em deixar a Presidência da Casa, circulou a informação de que Mercadante cogitou deixar o cargo de líder.

A notícia circulou dias depois da reunião de Lula com os senadores do PT, no final de junho. Ali, o senador paulista insistiu na posição da bancada de afastamento temporário de Sarney, enfrentando Lula, que pregou o apoio e tentou enquadrar a bancada. O clima ficou tenso, mas a situação foi contornada. No dia seguinte, com uma fisionomia que não escondia o seu descontentamento, Mercadante relatou aos jornalistas o que Lula havia dito e fechou o pronunciamento com a posição da bancada, pelo afastamento de Sarney. Lula não gostou. E, ontem, reclamou da nota editada sexta-feira por Mercadante que, mais uma vez, afasta o líder petista do governo. ¿Pra quê essa nota?¿, reagiu Lula.

Muitos petistas reclamam que Mercadante pensa mais em si e na sua eleição em São Paulo do que na felicidade geral do governo Lula. Na oposição, os senadores brincam com o jeitão do petista em plenário. Basta algum senador passar por Heráclito Fortes (DEM-PI) e não cumprimentá-lo, para ouvir logo um ¿bom dia, Mercadante!¿ É que, às vezes, o petista está tão entretido em seus pensamentos e problemas que passa reto pelos colegas. E ali, na confraria do Senado, só escaparam aos olhos os atos secretos. (DR)