Título: Falta de qualificação aumenta renda, mas mantém desemprego elevado
Autor: Almeida, Cássia; Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 23/01/2011, Economia, p. 30

APAGÃO DE MÃO DE OBRA: Desocupados não têm a especialização exigida

Em Recife, salário subiu 24% em novembro, mas desocupação é de 8,4%

RIO e TERESINA. O mercado de trabalho nas metrópoles nordestinas está melhorando a olhos vistos, numa velocidade maior do que no resto do país. A menor qualificação está fazendo o rendimento subir sistematicamente. Porém, não está deixando que a taxa de desemprego acompanhe esse ritmo. Muitos desempregados não conseguem emprego porque não têm a qualificação que as vagas exigem. Na região metropolitana de Recife, uma das seis metrópoles acompanhadas mensalmente pelo IBGE, o rendimento médio real (já descontando a inflação) subiu 24% em novembro, frente ao mesmo mês de 2009. Um percentual bem superior aos 5,7% da média das seis regiões que inclui Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Já a taxa de desemprego ficou em 8,4%, acima dos 5,7% registrados na média das metrópoles.

- No Nordeste, a escolaridade é menor e, por isso, o prêmio para qualificação é maior que em outras regiões. Lá há uma relativa escassez de mão de obra qualificada - afirma o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em Salvador, rendimento subiu 7,4% em novembro

Recife está vivendo o maior volume de investimentos das últimas décadas, explica o economista do Dieese, Sérgio Mendonça. Para ele, isso explica a subida perto de 10% do rendimento nos últimos quatro meses na região, na pesquisa feita pelo instituto. Mas não é somente Recife que está se destacando nas pesquisas de emprego. Fortaleza também. Acompanhada pelo Dieese desde dezembro de 2008, o salário subiu 6,6% em outubro frente a 2009.

- Há um dinamismo forte. O emprego industrial responde por uma parcela maior de ocupações que em São Paulo. A diferença é salarial. A renda, apesar de estar crescendo, é muito baixa ainda.

Amparado pelo mercado interno, Ceará é forte na produção de alimentos, tecidos, confecções e calçados. Bens de consumo final que ganharam impulso com o aumento da renda dos trabalhadores em geral. Em Salvador, a subida do salário também é expressiva. A elevação chegou a 7,4%, contra 5,7% da média das seis maiores regiões metropolitanas brasileiras. O reflexo também aparece na taxa de desemprego do Dieese:

- A taxa de desemprego está em 14,8%. Mas já chegou a 23% há quatro anos - diz Mendonça.

"Eu não tenho dinheiro para fazer os cursos exigidos"

A falta de qualificação está impedindo que o garçom desempregado Maykon William Silva, de 24 anos, consiga uma vaga em Teresina, apesar de a cidade estar concentrando uma série de investimentos industriais e do varejo. Ele conta que tentou trabalhar em supermercados que estão se instalando na capital, já fez quatros concursos, sem sucesso. Ter o ensino médio não lhe garantiu um emprego:

- Essas vagas são disputadas por pessoas com curso superior ou cursando universidade e eles terminam aprovados. Eu não tenho dinheiro para fazer os cursos de qualificação que as empresas exigem. Termino desempregado.

Segundo Mendonça, com esses indicadores, o Nordeste começa a reduzir a imensa distância na qualidade do mercado de trabalho em relação aos seus pares no Sudeste e Sul. O emprego com carteira assinada avança mais rapidamente. Enquanto na média das regiões a alta no número de trabalhadores protegidos foi de 39% desde 2002, em Recife chegou a 53% no mesmo período. E, em Salvador, a 51,9%.