Título: Davos: câmbio e dívidas são desafios
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 23/01/2011, Economia, p. 31

Fórum Econômico, que começa quarta-feira, avalia riscos globais do pós-crise

PARIS. Sem a presença da presidente Dilma Rousseff, que, sem dúvida, seria uma das atrações do evento, o mais prestigiado encontro mundial de líderes políticos e econômicos começa quarta-feira em Davos, no topo de um vilarejo de esqui na Suíça, sob um clima pouco festivo: o de uma crise mundial mal curada e o medo de recaídas pela frente. Crise cambial, uma Europa endividada, um mundo cada vez mais populoso e ameaça terrorista rondam o evento.

- O mundo nunca confrontou tantos desafios complexos ao mesmo tempo - constatou Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial.

Há duas grandes ameaças hoje, segundo o relatório do Fórum sobre os riscos globais de 2011: disparidades econômicas - o crescente fosso entre ricos e pobres dentro e entre países - e falhas na governança global. O relatório, que lista 34 riscos, começa com um alerta: "O mundo não está em condições de suportar novos choques".

Trinta chefes de Estado e de governo têm presença confirmada no evento que vai reunir, até o dia 30, um número recorde de líderes empresariais - mais de mil. O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, será o convidado de honra da abertura. Entre os participantes estão o ex-presidente americano Bill Clinton, o secretário de Tesouro dos EUA, Tim Geithner, e a chanceler alemã, Angela Merkel.

"Governos não podem resolver sozinhos os problemas"

O governo de Dilma comparecerá com uma delegação reduzida e discreta: o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.

Os otimistas de Davos devem dizer que o mundo hoje se recuperou da pior crise desde 1929 melhor do que muitos imaginaram há um ano. Verdade. Mas isso não impede que um dos temas a dominar os debates seja a incerteza econômica.

"Há um alto grau de volatilidade e ambiguidade nos mercados a curto e médio prazos, que provavelmente vai resultar em comportamento irracional por parte dos investidores", diz o relatório do Fórum.

Davos, este ano, acordou para a importância do G-20, que reúne as principais economias do planeta, incluindo países emergentes, como China, Índia e Brasil. Schwab reivindica que empresários sejam mais integrados ao processo de decisão do grupo e vai lançar no encontro uma "rede com as melhores cabeças" para pensar soluções.

- Nós queremos dar nossa contribuição para o processo do G-20, que se transformou no principal elemento de governança global. Empresários têm que ser integrados neste processo. Governos não podem resolver sozinhos os problemas que enfrentamos hoje. Eles precisam de parceiros privados e da sociedade civil - disse Schwab.

Há temores para lotar as dezenas de salas de debates de Davos: escassez de recursos num contexto de aumento da população mundial, que vai atingir sete bilhões de pessoas, aumentando o risco de conflito político, de problemas ambientais e ameaçando o crescimento econômico. Finalmente, há o enfraquecimento das instituições: governos e instituições que eram frágeis antes da crise, ficaram mais ainda, diz o Fórum.

Deflação ou inflação: o que é mais perigoso no momento?

Mudanças no poder do mundo serão outro ponto forte de Davos este ano. E o Brasil, assim, como Índia e China, estão, desta vez, posicionados do lado da boa notícia. Uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que 47% dos americanos consideram a China como líder econômico. O Banco Mundial estima que o crescimento econômico dos países em desenvolvimento e pobres contribuíram em 2010 para quase metade do crescimento mundial (46%). Ou seja, o mundo dos ricos precisa do crescimento dos mais pobres.

Um estudo conjunto divulgado pelo Fórum e pela McKinsey calcula que vão ser precisos US$103 trilhões de crédito na próxima década para estimular o crescimento econômico global. Só os EUA vão precisar de US$3,8 trilhões em 2020, a não ser que os americanos poupem mais.

Davos este ano também vai lançar a pergunta: agora que o risco de dupla recessão não se concretizou, o que é mais perigoso no momento: deflação ou inflação, que está aumentando em países como o Brasil? E terá ao menos uma mudança em favor das mulheres. Pela primeira vez, o Fórum pediu às suas cem empresas parceiras para que incluam pelo menos uma mulher entre seus representantes.