Título: Depois da tempestade, a demolição
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 25/01/2011, Rio, p. 12

Área de risco em Friburgo tem as 2 primeiras casas derrubadas, mas ainda restam 266

Equipes da Defesa Civil do estado já demoliram as primeiras duas casas e marcaram com tinta outras 18 casas que terão de ser derrubadas na comunidade de Alto Floresta, em Nova Friburgo, por estarem em área de risco de novos deslizamentos de terra. Segundo estimativa da Promotoria de Tutela Coletiva e Cidadania do Ministério Público, há ainda 266 casas em situação de risco no morro, incluindo dezenas de imóveis que desabaram com a tromba d"água que caiu sobre a cidade no dia 12 passado, deixando 397 mortos em Friburgo - 822 em toda a Região Serrana. Os imóveis demolidos ontem já estavam desocupados. Já a demolição das casas marcadas, que ainda estão com moradores, deve começar hoje.

O Alto Floresta foi escolhido para dar início às demolições por ser considerada uma área de altíssimo risco. Só ali pelo menos 38 pessoas morreram nos deslizamentos da madrugada do dia 12. Ontem, tratores abriram passagem nas ruas do Alto Floresta, ainda cobertas de lama e cheias de entulho, para os moradores retirarem o que conseguiram salvar de suas mobílias. Os móveis serão levados para uma igreja, onde soldados do Exército montarão guarda para impedir saques. Em frente ao depósito fica a Escola Municipal Ernesto Tessarolo, para onde estão sendo enviados mantimentos e roupas para os desabrigados. Ontem havia 45 pessoas abrigadas no local.

Equipes abordadas por traficantes

Equipes da Defesa Civil do estado chegaram a ser intimidadas por traficantes enquanto marcavam as casas com tinta. Sem mostrar armas, eles disseram que não permitiriam o trabalho, iniciado no último domingo. A situação foi contornada com a chegada de Ruth Jurberg, assessora da Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.

- Eles chegaram dizendo que ninguém iria marcar ou demolir nada. Interpretamos como um "comunicado e paramos - disse um agente da Defesa Civil, que, bastante assustado, pediu para não ser identificado.

O incidente aconteceu antes da chegada do vice-governador Luiz Fernando Pezão para acompanhar o início das demolições. Ruth Juberg, porém, negou qualquer problema para realizar a operação. Ela explicou que os moradores que deixarem suas casas terão três opções: receber aluguel social (cerca de R$400) por até um ano (tempo necessário para a construção de três mil casas populares); compra assistida de outro imóvel fora de área de risco; ou uma indenização pelo imóvel demolido. Neste caso, no entanto, o valor pago ao proprietário é 40% inferior ao da compra assistida.