Título: BC faz ação de US$4 bi, mas dólar cai
Autor: Carneiro, Lucianne ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/01/2011, Economia, p. 21

Moeda fecha a R$1,672. Mercado já projeta inflação de 5,5% este ano

e RIO e BRASÍLIA. O Banco Central (BC) elevou ontem seu poder de fogo no câmbio e fez um total de US$2 bilhões em intervenções nos mercados à vista e futuro. No terceiro leilão do ano de swap cambial reverso, que equivale a uma compra de dólar no mercado futuro, o BC vendeu 20 mil contratos, no valor total de US$988,15 milhões. À vista, a autoridade monetária fez dois leilões de compra, com valor total estimado de US$1,1 bilhão. Mesmo assim, o dólar recuou 0,05%, a R$1,672. Somando com os dois leilões de swap realizados na semana passada, de cerca de US$1 bilhão cada, o total de intervenções no mercado passa de US$4 bilhões.

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou o otimismo de Wall Street e fechou em alta ontem, com volume menor de negócios por causa do feriado de aniversário da cidade de São Paulo, hoje. O Ibovespa, principal referência do mercado, subiu 0,42%, aos 69.426 pontos. Em Nova York, o índice Dow Jones avançou 0,92%, na esteira de bons resultados corporativos. As ações da TIM Participações lideraram os ganhos do Ibovespa, com alta de 4,10% da PN (preferencial, sem voto) e 4,04% da ON (ordinária, com voto).

Na semana em que o BC elevou a Selic de 10,75% para 11,25% ao ano, o mercado piorou suas estimativas sobre inflação. Segundo a pesquisa Focus do BC com 80 instituições, as previsões sobre o IPCA para 2011 passaram de 5,42% para 5,53% e, pela primeira vez, as de 2012 foram elevadas: de 4,50% para 4,54%. Ambas se distanciam do centro da meta do governo, de 4,5%.

Segundo especialistas, isso ocorreu sobretudo por causa da persistente alta dos preços internacionais das commodities, que se reflete na inflação de alimentos. Ainda pesa o fato de a economia brasileira estar forte, com a demanda crescendo mais que a oferta.

- A inflação vem vindo com tudo. As commodities têm subido com força e não se vê sinais de reviravoltas tão cedo - disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Balança tem superávit de US$680 milhões na 3ª semana

Ao elevar a Selic na semana passada, o BC ressaltou que também devem ser levadas em consideração as "medidas macroprudenciais" que adotou para combater a inflação. Entre estas, o aumento dos compulsórios bancários (parcela dos recursos dos bancos que fica presa do BC) e medidas para frear o crédito de consumo a longo prazo. O mercado aguarda a divulgação da ata da reunião, na quinta-feira, para entender melhor a decisão do BC.

Enquanto isso, o Focus mostrou que o mercado manteve a projeção de que a Selic encerrará este ano a 12,25% e 2012 a 11%. Há, no entanto, economistas que ainda acreditam num aperto maior.

- Ainda há dúvidas sobre a dose de juros que o BC dará. A inflação continua muito forte - afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, para quem a Selic fechará 2011 em 12,75% anuais.

Sobre o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), as projeções permaneceram em 4,5% este ano e no próximo. Os especialistas também mantiveram as estimativas para o dólar, encerrando 2011 a R$1,75 e 2012 a R$1,80.

A balança comercial brasileira registrou na terceira semana de janeiro superávit de US$680 milhões, o melhor resultado semanal do mês. Foram exportados US$4,272 bilhões e importados US$3,592 bilhões. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária dos embarques atingiu US$854,4 milhões, alta de 28,2% frente à semana anterior. Já as compras externas subiram 8%, para a média de US$718,4 milhões. Em janeiro, até dia 23, o superávit atingiu US$690 milhões.

COLABOROU Geralda Doca