Título: Lula será a estrela do Fórum Social deste ano
Autor: Hofmeister, Naira
Fonte: O Globo, 30/01/2011, O País, p. 10

Edição de 2011, no Senegal, começa no próximo dia 6

Organizadores do Fórum Social Mundial avaliam que a vitória da esquerda em diversos países da América Latina nos últimos dez anos - além da eleição de Barack Obama nos Estados Unidos - foi influenciada pelos debates realizados ao longo da década sob o slogan de que "um outro mundo é possível", o lema do Fórum.

A ascensão de um operário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao cargo de presidente da República era uma das bandeiras da primeira edição do evento, que debutou em 25 de janeiro de 2001 em Porto Alegre. Hoje, o ex-mandatário brasileiro é considerado símbolo do Fórum Social e será a grande estrela da edição de 2011, entre 6 e 11 de fevereiro, em Dacar, no Senegal.

Porém, passada uma década desde que o debate se iniciou, a esquerda ainda diverge quando o assunto é ação: enquanto alguns defendem a autogestão, com diversos eixos de reivindicação, críticos creem que o movimento está perdendo a força, ao não participar como ator político nas instâncias decisórias.

A discussão não é nova e está explícita na inconformidade de um dos idealizadores do Fórum, o empresário Oded Grajew:

- Depois desses dez anos, uma das nossas dificuldades é justamente explicar o que é o Fórum, inclusive para o público que o frequenta - lamenta Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos.

Ex-governador do Rio Grande do Sul, que comandava o estado durante a realização das duas primeiras edições do Fórum Social na capital gaúcha, Olívio Dutra (PT) crê que a falta de influência direta nos centros de poder prejudica o movimento:

- Vejo o Fórum Social Mundial numa espécie de crise. Claro que não é algo messiânico, mas, ao optar por não fazer política, ele perde sua força.

Mas, para Grajew , essa atitude cabe a um partido, e não a um movimento plural como o Fórum. Ao seu lado, está a cientista política Vanessa Marx, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):

- O Fórum não trabalha com modelos, não está no seu espírito ter uma receita de soluções. O movimento não vai deliberar sobre como isso tem que ser feito. Esta é uma expectativa que não deve ser incentivada - analisa Vanessa, que integrou durante sete anos o Conselho Internacional do Fórum.

As leituras sobre o papel do encontro são tão diversas quanto as entidades e organizações que o compõem. Debaixo do guarda-chuva do Fórum Social Mundial estão movimentos que eventualmente podem até ser antagônicos. Caso das feministas que defendem o aborto e alguns setores da Igreja Católica que sempre marcam presença no evento.