Título: No DF, Agnelo já sofre desgaste com aliados
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 30/01/2011, O País, p. 12

Há 30 dias no comando do governo do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz já coleciona inimizades entre aliados. Ele descumpriu uma promessa de campanha de comandar pessoalmente a área de Saúde, e ainda tenta acertar as contas deixadas pela gestão anterior, do PMDB. Apesar de ser o partido do vice-governador, Tadeu Filippelli, o PMDB deixou uma herança maldita para o governo de Agnelo.

- Pegamos uma situação muito difícil, um caos administrativo. Estamos descobrindo uma série de irregularidades cometidas pela gestão anterior. Esse primeiro momento foi para botar ordem na casa - argumenta Agnelo.

Como a presidente Dilma Rousseff, o governador tentou acomodar os partidos que o apoiaram, mas a composição do secretariado deixou muitos descontentes. Um dos principais contrariados, o senador Cristovam Buarque (PDT), ex-governador do DF, não esconde suas mágoas. Queria ter escolhido o secretário de Educação, como supostamente foi combinado na campanha, mas não conseguiu.

Parte do PT está contrariada, porque queria ter opinado mais nas nomeações do primeiro escalão. O PMDB também está incomodado. O vice Filippelli cuidou pessoalmente de boa parte das nomeações, sem dar voz aos correligionários. Um aliado confessa: está sendo difícil agradar a todo mundo. E integrantes da oposição reforçam:

- Não está havendo uma divisão certa (de cargos). Ninguém vai se conformar com isso - diz o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF).

O médico Agnelo desistiu da ideia anunciada na campanha de acumular o cargo de governador com o de secretário de Saúde. Mas a assessoria alega que ele não abandonou o setor, pois tem visitado hospitais públicos três vezes por semana.

- Concentrei todos os meus esforços para cuidar especialmente da Saúde, visitando os hospitais num esforço de executar medidas para minimizar a situação de indignidade da saúde pública - disse Agnelo, através da assessoria.

Um dos primeiros atos do governador foi decretar estado de calamidade pública na Saúde. Apesar de vistosa, a medida deu munição aos inimigos. Agora, o governo pode contratar serviços e comprar remédios e equipamentos sem licitação. A assessoria de Agnelo confirmou que a aquisição de medicamentos está sendo feita desta forma. Não informou quanto foi gasto e quanto ainda será.

- Todo governo tem o direito de ser avaliado após cem dias. Mas, nos primeiros 30 dias, ele já cometeu grandes erros. Vamos ter problemas gravíssimos na Saúde, devido às compras sem licitação. Temos escândalos à vista - aposta Fraga.

Segundo a assessoria do governo, as compras foram feitas sem licitação porque sem remédios suficientes os pacientes sofreriam ainda mais. O governo garantiu que haverá licitação em breve, e que as compras sem concorrência vão durar, no máximo, três meses.

A relação de Agnelo com o PMDB também é tortuosa. Já no discurso de posse, ele criticou o ex-governador Rogério Rosso (PMDB) por ter deixado Brasília cheia de lixo e mato nas ruas. Agnelo diz ter assumido com R$600 milhões em dívidas. A projeção para o déficit, no fim do ano, é de R$400 milhões. Uma medida contabilizada como avanço foi a exoneração de 18 mil ocupantes de cargos em comissão já no primeiro dia. A ideia é reduzir pela metade os 20 mil cargos de confiança que existiam até o ano passado.