Título: PF vê indício de fraude em exames da OAB
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 29/01/2011, O País, p. 14

Vinte candidatos tiveram acesso antecipado ao gabarito; concursos foram em 2009

BRASÍLIA. A Polícia Federal descobriu novos indícios de fraude em três exames da Ordem dos Advogados do Brasil em 2009. Pelos dados da polícia, pelo menos 20 candidatos tiveram acesso antecipado ao gabarito de uma das provas da terceira etapa. A conclusão da apuração sobre o suposto vazamento das provas da primeira e da segunda etapas depende agora de documentos a serem fornecidos pelo Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos), da Universidade de Brasília (UnB).

Anunciada em 16 de junho de 2010, a Operação Tormenta identificou uma quadrilha especializada em fraudar concursos públicos, que estaria em atividade desde 1992. Quinze pessoas já foram presas por suposto envolvimento. Entre os acusados estão o advogado Antonio Di Luca, o policial rodoviário federal Maurício Toshikatsu Iyda, o jornalista Antonio Carlos Vilela, o comerciante Pedro de Lucca Filho e o advogado Edgard Suenaga.

A equipe do delegado Victor Hugo Alves, da diretoria de Inteligência da PF, identificou 250 candidatos que teriam se beneficiado das fraudes. Entre os investigados, estão 14 aprovados em concurso da própria PF. A quadrilha teria fraudado ainda concursos da Receita Federal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Agência Nacional Aviação Civil. Os preços das provas ou gabaritos variavam de R$30 mil a R$100 mil.

A polícia suspeita que, em alguns casos, os preços eram superiores. Numa conversa telefônica, gravada com autorização judicial, a PF flagrou um dos membros da quadrilha negociando uma prova de auditor da Receita Federal por US$150 mil. Para convencer o candidato, ele disse que a despesa era alta, mas poderia ser facilmente ressarcida com cobranças de propina no futuro exercício da fiscalização.

Com a descoberta de fraudes nas provas da OAB de 2009, a polícia se aproxima do fim das investigações. Mas a PF ainda depende das informações solicitadas ao Cespe. Há três meses foram pedidas cópias das provas, mas sem sucesso. Quando surgiram as primeiras denúncias de fraude do exame, o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, anunciou que os fraudadores não seriam acolhidos na instituição.

Segundo a polícia, nas fraudes de concursos do Cespe policiais rodoviários federais violavam os lacres das provas, fotografavam o material e depois vendiam as informações para o quadrilha.