Título: Petista de fala mansa
Autor: Jungblut, Cristiane ; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 02/02/2011, O País, p. 4

De jeito manso, às vezes até ingênuo, Marco Maia (RS) mostrou jogo de cintura. Fortaleceu-se amealhando apoio de alas do PT preteridas na formação do Ministério de Dilma Rousseff e chegou à presidência da Câmara. Em sua segunda legislatura, a primeira para a qual foi eleito titular, ocupou lugar de destaque: a vice-presidência da Casa na vaga que cabia ao PT. Nesta eleição, ganhou novamente, na luta interna, de dois candidatos de peso: o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), e o ex-presidente Arlindo Chinaglia (SP). Os colegas avaliam que ganhou porque sabe ouvir muito, dialogar e é acessível.

- Ele é sabido demais, jeitoso! Usa a fala mansa como instrumento político. Ouve bastante, conversa e é direto nas ideias, por isso as pessoas passaram a respeitá-lo. É um mineiro dos pampas, mas tirador de sarro e com traços de gabola, convencido, como todo gaúcho - define o amigo Jilmar Tatto (PT-SP), primeiro a declarar o apoio a Maia na disputa interna.

A eleição de Vaccarezza, tido como preferido de Dilma, era dada como certa. Insatisfações da bancada petista minaram sua candidatura. Chinaglia retirou o nome, apoiou Maia e tornou-se articulador de sua campanha. A capacidade de diálogo é ressaltada como uma das qualidades de Maia, mas muitos petistas não negam temer sua falta de experiência e pulso nas votações.

Um dos momentos mais tensos da Câmara no ano passado foi durante sessão que varou a madrugada, com policiais pressionando para votar, a qualquer custo, a chamada PEC 300 (que cria o piso para a categoria). Maia substituía o então presidente Michel Temer (PMDB-SP) e quase cedeu à pressão dos policiais. No último minuto, na sala da presidência, concordou com os colegas que uma votação sob pressão e ameaças não seria aconselhável.

Maia comenta, com orgulho, que assim como o ex-presidente Lula, é metalúrgico e torneiro mecânico. Lembra que, juntos, militaram no movimento sindical: Lula em São Paulo e ele no Sul. Gosta de falar sobre a origem humilde de sua família, o pai vigia noturno, a mãe dona de casa, que fazia milagres para garantir a comida para os dois filhos do casal.

É casado com uma procuradora do Ministério Público no Rio Grande do Sul e tem um filho adolescente. Hoje com 45 anos, Maia começou cedo na política, atuando no movimento sindical. Filiou-se ao PT em 1985 e é um dos fundadores do partido no estado.

Atraiu a mídia nacional na Câmara como relator da CPI do Tráfego Aéreo, durante o caos aéreo. A comissão rivalizou com uma CPI semelhante no Senado, que também investigava o caso e tinha como relator o senador da oposição, Demóstenes Torres (DEM-GO). Os dois protagonizaram uma troca de acusações, com Demóstenes chamando Maia de "Pedro Bó", referência ao personagem abobalhado criado por Chico Anysio.