Título: Novatos como Tiririca disputam a atenção com políticos antigos
Autor: Jungblut, Cristiane ; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 02/02/2011, O País, p. 4

Com engarrafamento do lado de fora do prédio e o plenário da Câmara lotado de deputados e parentes, os 513 deputados tomaram posse ontem - inclusive os ministros de Estado, que retornarão ao cargo a partir de hoje. A festa teve a presença do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que comandou a Casa até dezembro.

Celebridades novatas na Casa chamaram atenção, principalmente o deputado Tiririca (PR-SP). Mas disputavam a atenção antigos políticos que retornaram ao Congresso, como os ex-senadores Esperidião Amin (PR-SC) e Hugo Napoleão (DEM-PI). O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (CE), que até ontem era senador, trocou o Salão Azul do Senado pelo Salão Verde da Câmara e virou deputado. O índice de renovação na Câmara foi de 46% dos 513 deputados.

Temer disse que tinha "saudades do Parlamento".

- Aqui é mais animado, sinto falta daqui, 24 anos aqui, de modo que foi muito agradável, e quero manter o melhor contato com o Legislativo.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), discursou por cerca de dez minutos e defendeu a "transparência" da Câmara e do Legislativo como um todo - constante alvo de denúncias sobre gastos dos parlamentares, por exemplo.

- Dessa forma, (a Câmara) contribui para fazer do Legislativo o mais aberto e o mais transparente dos Poderes da República. Deliberadamente, foram tornadas públicas nossas responsabilidades, nossa estrutura e nosso funcionamento, e isso faz com que todos reconheçam a Câmara dos Deputados como esteio da democracia e como fiadora da normalidade institucional - disse Maia, entusiasta do projeto que aumentou os subsídios parlamentares.

Falha na estreia do novo painel eletrônico

Maia anunciou a abertura do novo painel eletrônico, com os nomes dos deputados, mas houve falha técnica. O painel demorou dois minutos para funcionar, o que gerou brincadeiras de outros deputados. O plenário tinha inovações como a plataforma especial (espécie de elevador) para permitir acesso de deputados cadeirantes à Tribuna.

Num terno escuro, Romário em nada lembrava o piadista das partidas de futevôlei: fez discurso de político profissional com o resumo de suas prioridades. Disse que quer melhorar "a qualidade de vida de crianças e jovens pobres, além de portadores de necessidades especiais". E comentou o assédio:

- Antes, era numa situação diferente. Mas isso aí sempre fez parte da minha vida.

Sério com a imprensa, o palhaço Tiririca (PR-SP) tentou uma estreia discreta, mas foi alvo até de colegas deputados, ávidos por uma foto ou um abraço. Tiririca chegou cedo com a mulher, Nana Magalhães. O palhaço era patrulhado o tempo inteiro pela assessora de imprensa, que pedia calma:

- Gente, ele acabou de operar a vesícula!

Parentes, amigos e eleitores ligavam para cumprimentá-lo. Ele agradecia:

- Muito obrigado. Um grande abraço por trás.

Tiririca descreveu a posse como emocionante, mas menos que a cerimônia de diplomação. E adiantou que vai correr atrás do prejuízo, já que, por causa da cirurgia, teve de faltar ao cursinho sobre a Câmara para novos parlamentares:

- Vamos aprender com os veteranos. Vamos aprender, se Deus quiser.

O boxeador Popó (PRB-BA) não assumiu ontem, pois a vaga só abrirá quando o deputado Mário Negromonte (PP-BA) voltar ao Ministério das Cidades. Do lado de fora, cerca de 60 populares e estudantes ligados ao PSTU protestavam contra o aumento concedido aos parlamentares no fim do ano passado. O salário dos congressistas saltou de R$16,5 mil para R$26,7 mil, o teto do funcionalismo. Também subiu a remuneração da presidente Dilma Rousseff e de seus ministros.