Título: FMI alerta que desemprego e inflação podem provocar guerras entre países
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Fonte: O Globo, 02/02/2011, Economia, p. 25
Strauss-Kahn vê risco em recuperação desigual e tensões sociais crescentes
A economia global está ameaçada por problemas como o desemprego e a inflação crescente, que podem incitar o protecionismo comercial e até provocar guerras entre países, advertiu ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. A alta dos preços de alimentos e combustíveis nos últimos meses já afetou as nações mais pobres e é um dos fatores por trás das manifestações no Egito e na Tunísia, cujo presidente foi deposto no mês passado.
- À medida que as tensões aumentam entre países, poderemos ver um protecionismo crescente, comercial e financeiro. E, à medida que as tensões aumentam dentro dos países, poderemos ver uma instabilidade social e política crescente dentro das nações, e até guerras - afirmou Strauss-Kahn em Cingapura, em um painel sobre a economia asiática.
Ele citou dois desequilíbrios perigosos que poderiam dar origem a outra crise. O primeiro é a recuperação desigual entre países, com os emergentes crescendo bem mais que os ricos e possivelmente superaquecendo. O segundo são as tensões sociais em países com desemprego elevado e desigualdade crescente de renda.
Diretor-gerente defende ajuste nas taxas de câmbio
Ao longo da próxima década, 400 milhões de jovens entrarão na força de trabalho mundial, acrescentou Strauss-Kahn. Ele afirmou que, apesar de a economia global estar se recuperando, "não é a recuperação que desejamos":
- Enfrentamos a perspectiva de uma "geração perdida" de jovens, destinados a sofrer suas vidas inteiras com desemprego e condições sociais piores. Criar empregos precisa ser uma prioridade não só em economias avançadas, mas também em países mais pobres.
Apesar do alto desemprego após a crise global de 2008 - nos Estados Unidos, o índice está em 9,4% -, as barreiras comerciais não atingiram os níveis temidos por muitos analistas. Em vez disso, vários países - como a China - vêm buscando manter suas moedas desvalorizadas para estimular as exportações nacionais.
- O padrão pré-crise de desequilíbrios globais está ressurgindo - disse Strauss-Kahn. - O crescimento nas economias com amplos déficits externos, como os Estados Unidos, ainda é guiado pela demanda doméstica. E o crescimento em economias com amplos superávits externos, como China e Alemanha, ainda está sendo alimentado pelas exportações.
Ele acrescentou que um ajuste nas taxas de câmbio é necessário para resolver os desequilíbrios econômicos:
- Protelar esse ajuste em um país só tornará mais difícil, e mais custoso, para outros ajustarem suas taxas de câmbio.
O diretor-gerente do FMI disse que o organismo prevê expansão de 2,5% nos países ricos este ano, devido ao desemprego e à dívida. Já os emergentes cresceriam 6,5%, com a região da Ásia - excluindo o Japão - chegando a 8,5%.