Título: Maia faz defesa das emendas
Autor: Braga, Isabel ; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 02/02/2011, O País, p. 3
Petista concorreu com três outros candidatos à Presidência da Câmara
Em meio a brigas internas por cargos e espaços no novo governo, o petista Marco Maia (RS) defendeu ontem, no discurso de sua candidatura à Presidência da Câmara, o pagamento efetivo das emendas parlamentares. Com a boca sangrando de tanto falar, Marco Maia fez, na tribuna, um discurso para agradar aos companheiros, numa reação ao adversário mais forte, Sandro Mabel (PR-GO), que apresentou uma plataforma corporativista.
A votação para o comando da Casa começou depois das 19h e se estendeu pela noite.
¿ Todos sabemos da importância das emendas, fundamentais para o exercício do mandato. Não são importantes para garantir a reeleição (do parlamentar), mas porque representam um instrumento de democratização do uso de recursos públicos. É por isso que vamos lutar e nos comprometer, fazer com que nossas emendas tenham efetividade ¿ disse Maia, que tem o apoio da presidente Dilma Rousseff.
Aliados e o governo confiavam que a base, mesmo com insatisfações, daria um voto de confiança à nova presidente, Dilma Rousseff. Entre os apoiadores de Maia, o sentimento predominante era o de que ainda é cedo para transformar insatisfações em derrotas.
Ministros voltam e votam em Maia
Ministros do PT tomaram posse ontem na Câmara ¿ para então se licenciarem e voltarem ao governo, deixando as vagas para seus suplentes ¿ e aproveitaram para reforçar a eleição de Maia. O governo se mobilizou, até a tarde de ontem, para que Mabel desistisse da candidatura, sem sucesso.
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), conversou com o deputado e fez um último apelo. Mabel, no entanto, deixou claro que a atitude do PR de expô-lo e concretizar a ameaça de expulsão em entrevista coletiva inviabilizou qualquer saída honrosa. Hoje, o PR ameaça abrir processo de expulsão do deputado por desobediência à questão partidária. Mabel avisou que só pensará nisso depois.
Além de Mabel, também candidataram-se à Presidência os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ). Cada um dos quatro candidatos teve quinze minutos para defender suas ideias na tribuna. Bolsonaro foi o primeiro a falar, criticando a briga por indicações para cargos no governo Dilma Rousseff.
Ele defendeu a independência da Câmara e disse que não teria cargos a oferecer aos colegas. Mabel apelou ao tom emocional e disse que não recuaria, apesar da ameaça de seu partido de expulsá-lo por ter insistido na candidatura.
Mabel sob ameaça de expulsão do PR
Mabel reforçou promessas corporativas aos colegas, como a construção do anexo de gabinetes. Ele chegou a chamar de Carandiru o Anexo III da Casa, que abriga alguns gabinetes de deputados que são menores e não têm banheiros privativos. Também afirmou que votaria, se eleito, projeto que tornaria impositiva as emendas parlamentares. Ao terminar sua fala, Mabel foi bastante aplaudido pelos colegas
Marco Maia falou em seguida e adotou um discurso institucional. Empolgado ao falar, chegou a machucar a boca. Ao perceber o sangramento, os amigos aconselharam-no a beber água. O último a falar, Chico Alencar fez a defesa do resgate ético do Poder Legislativo, criticando os antecessores que focaram suas promessas na construção de prédios de gabinete:
¿ Não estarei aqui falando de proposta corporativista. Mais do que prédio, o que a gente precisa construir é a ponte entre a sociedade e o Parlamento ¿ disse Chico Alencar.
Além de eleger o próximo presidente, os 513 deputados também votaram para outros dez cargos da Mesa Diretora: seis titulares e quatro suplentes de secretário. Sem adversários, nove candidatos tiveram apenas seus nomes referendados. Houve disputa apenas para a vaga da 2ª vice- presidência, entre Eduardo da Fonte (PP-PE) e Rebecca Garcia (PP-AM). O PP tentou até o último momento evitar a candidatura de Rebecca, mas não conseguiu impedir que ela disputasse.