Título: Sem chance de consenso
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2009, Política, p. 6

Eleição interna do partido terá pelo menos cinco concorrentes. Lula sonhava com unidade em torno de José Eduardo Dutra

Escalado para articular candidatura única, Tarso Genro não conseguiu convencer os ¿companheiros¿

O presidente Lula até tentou, mas nem um pedido dele feito ao ministro da Justiça, Tarso Genro, conseguiu evitar que o PT chegue ao próximo sábado com um leque de candidatos a presidente nacional do partido. Há cerca de um mês, Lula chamou o ministro e fez um apelo para que Tarso ajudasse a retirar a candidatura de José Eduardo Cardozo, do grupo Mensagem ao Partido, e trabalhasse pela unidade em torno do nome de José Eduardo Dutra, presidente da BR Distribuidora. Dutra deixa o cargo em agosto para deflagrar a campanha pela presidência do PT com a bandeira do grupo Construindo um Novo Brasil (CNB), tendência que se tornou conhecida como Campo Majoritário e abriga hoje a maioria dos petistas.

A turma da Mensagem ao Partido não desistiu da empreitada e o resultado é que o PT terá, pelo menos, cinco opções amanhã, quando termina o prazo para registro de candidatos a presidente nacional da legenda (veja quadro). Inclusive o deputado Geraldo Magela (PT-DF). Magela chegou a conversar com o grupo de José Eduardo Dutra, mas, se desistisse, seria o único a atender o apelo pela unidade, já que os outros não toparam. Sendo assim, a tendência que ele representa, o Movimento PT, considerada a segunda maior força petista do momento, preferiu manter a candidatura.

Um dos entraves na negociação petista foi a própria postura do grupamento Construindo um novo Brasil. Houve um momento em que eles concluíram que seria até possível fechar um acordo com as mais diversas tendências partidárias ou, pelo menos, com os maiores grupos. Em meio às conversas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi consultada diversas vezes, uma vez que, hoje, é a pré-candidata do PT à sucessão do presidente Lula. E o grupo mais ligado a ela avaliou que, num partido tão acostumado à disputa, uma candidatura única poderia resultar na cessão de muito espaço dentro do diretório nacional ou mesmo do governo. Por isso, ciente das dificuldades, o CNB optou por confiar em sua maioria.

José Dirceu

Um cabo eleitoral de peso do CNB é o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Conhecedor da alma petista, ele percorreu o país aparando arestas e fechando acordos em torno da candidatura de José Eduardo Dutra. Agiu assim, por exemplo, em Mato Grosso do Sul, onde selou trégua entre o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que planeja campanha pela reeleição, e o ex-governador Zeca do PT, que quer voltar ao comando estadual.

José Eduardo Cardozo, da Mensagem, terá forte presença no Sul do país, graças à força da deputada Maria do Rosário (PT-RS), mas sai de São Paulo, sua base eleitoral e berço do PT, dividido. Lá, o grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, o Novo Rumo, tende a fechar com Dutra. A esquerda está dividida entre Iriny Lopes (PT-ES) e Marcos Sokol.

A disputa interna do PT só termina em 22 de novembro. São 120 dias de campanha e, embora muitos candidatos estejam interessados, a maioria preferiria cuidar de outros temas nessa pré-temporada rumo a 2010. ¿É um contrassenso discutirmos isso agora. Deveríamos é estar cuidando da campanha da Dilma¿, reclama Geraldo Magela.

E EU COM ISSO O futuro presidente do PT será peça fundamental nas articulações para as alianças políticas na campanha presidencial de 2010, quando todos os brasileiros aptos a votar serão chamados a escolher o futuro presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Em 2002, quando Lula foi eleito, esse papel foi exercido por José Dirceu, que ajudou na composição que levou o empresário e então senador José Alencar (PRB-MG) para o lugar de vice na chapa petista.