Título: Entrevista Lawrence Summers
Autor:
Fonte: O Globo, 30/01/2011, Economia, p. 37

Economias ocidentais estão endividadas, enfrentando planos de austeridade e desemprego. Já os emergentes estão crescendo muito. Como o senhor vê essa mudança no equilíbrio de poder mundial? Como uma boa coisa ou como um risco?

LAWRENCE SUMMERS: Há uma mudança significativa, uma mudança fundamental na economia global, com poder econômico e massa (econômica) se transferindo dos países industrializados tradicionais para os mercados emergentes. Esta vai ser a grande história econômica deste período na História global. Mas vai exigir uma administração muito cuidadosa (da transição), para beneficiar todos os envolvidos (ricos e emergentes). Estou otimista de que, com boa vontade e cooperação, isso pode ser alcançado.

O G-20, grupo que reúne as principais economias do planeta, é o melhor fórum para administrar essa transição?

SUMMERS: O G-20 vai achar o seu caminho com o tempo, mas acho que é um grupo promissor, que mostrou valor considerável no encontro de março de 2009, quando decidiu a estratégia global para combater a crise financeira.

Não há o risco de o grupo se transformar, de fato, em um G-2, com Estados Unidos e China decidindo?

SUMMERS: Não acredito nesse risco. Obviamente, Estados Unidos e China são as duas maiores economias, mas ambos estão comprometidos a fazer parte de um processo multilateral.

Como o senhor vê a guerra cambial (na qual países usam instrumentos para manter suas moedas desvalorizadas frente ao dólar para elevar a competitividade de suas exportações) que o mundo vive hoje? Como pode ser resolvida?

SUMMERS: Eu não sei se há uma guerra cambial. Portanto, não vou falar sobre uma solução para isso.

O Brasil está muito preocupado com isso, e a moeda brasileira está sobrevalorizada.

SUMMERS: Temos visto um maior monitoramento e mais diálogo nestas questões, tanto no Fundo Monetário Internacional (FMI) como no G-20.

O Brasil tem uma nova presidente, Dilma Rousseff. Como o senhor vê o país?

SUMMERS: Acho que o Brasil vai realmente emergir como um líder do Bric (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China) nos próximos anos. Todos que estão observando a economia global nas últimas décadas têm de estar muito impressionados com a emergência do Brasil nos últimos anos.

Muitos países emergentes, como o Brasil, estão sofrendo pressões inflacionárias. Isso deve ser um motivo de grande preocupação?

SUMMERS: Eu acho que é uma preocupação. Parte disso está acontecendo por causa dos mercados de commodities (matérias-primas). Em parte, isso se explica pelas condições financeiras e, claro, pelas taxas de câmbio. Flexibilidade é a melhor forma de lidar com isso.

Qual é o futuro do euro?

SUMMERS: Eu não vou prever o que vai acontecer com as moedas.

E a economia americana?

SUMMERS: Pela primeira vez, em muitos anos, estou otimista.