Título: Protestos afetam bilionária indústria turística
Autor: Duarte, Fernando ; Roxo, Sergio
Fonte: O Globo, 30/01/2011, O Mundo, p. 41

O aumento dos confrontos no Egito levaram as autoridades a tomarem providências para proteger os principais pontos da valiosa indústria turística, que atrai US$10,8 bilhões por ano ao país. Tanques foram deslocados para atrações como as Pirâmides de Giza e o Museu Egípcio, no Cairo. Militares, cidadãos e a chamada Polícia Turística se uniram ontem para tentar impedir saques. Relatos, porém, dão conta de que duas múmias faraônicas foram destruídas.

¿ Fiquei arrasado quando cheguei aqui (Museu Egípcio) esta manhã (ontem) e vi que alguns tinham tentando entrar a força no museu. Estou muito preocupado com a segurança do museu ¿ disse o arqueólogo Zahi Hawass, presidente do Conselho Supremo de Antiguidades, à TV estatal. ¿ Cidadãos egípcios se juntaram à Polícia Turística para tentar impedí-los, mas alguns (saqueadores) conseguiram entrar por cima e destruíram duas múmias.

Companhias cancelam voos para o Cairo

Na sexta à noite, centenas de jovens formaram uma barreira humana em frente ao Museu Egípcio, que fica perto da sede do Partido Democrata Nacional, para protegê-lo ¿ enquanto saqueadores levavam televisões, ventiladores e equipamentos de som do prédio que abriga o partido, que foi incendiado.

Outro fato que preocupa Hawass é que edifícios próximos aos museu, que tem a maior coleção de antiguidades faraônicas do mundo, foram destruídos pelo fogo (as chamas continuaram até ontem) e uma possível queda destas construções pode causar danos ao prédio histórico.

No Brasil e no resto do mundo, a venda de pacotes turísticos ao Egito já foi atingida, devido ao temor dos turistas diante das manifestações violentas. E o cancelamento de viagens promete aumentar, já que governos de EUA e outros países europeus exortaram seus cidadãos a adiarem viagens.

O país recebe 12,5 milhões de turistas por ano, e 11% de seu PIB vêm desta indústria, responsável por um de cada 8 empregos no país.

Baseada em São Paulo, a operadora Intravel ¿ que negocia cerca de dez pacotes por mês para o Egito ¿ informou que quatro partidas previstas para a próxima semana foram canceladas. Em outras agências, não houve cancelamentos, mas há preocupação dos passageiros que se preparam para embarcar. A rotina dos célebres cruzeiros pelo rio Nilo, por exemplo, já foi alterada, segundo informaram agências de viagens.

Turistas brasileiros se mostraram preocupados. A atriz Fernanda Montenegro, por exemplo, estava no Egito quando os protestos começaram e decidiu antecipar sua volta, via Itália. Ela já está em Roma.

Ontem, houve uma corrida de cerca de 2 mil turistas ao aeroporto do Cairo. Muitos deles não tinham voos reservados, mas tentavam uma forma de deixar o país, esforço que parece inútil, uma vez que algumas companhias aéreas europeias e americanas começaram a anunciar cancelamentos e suspensões de serviço para o Cairo. Ontem, um voo da British Midland International para o Cairo retornou a Londres com a rápida evolução dos confrontos.

Além dos EUA, governos de Reino Unido, Holanda, Suécia, Canadá e Austrália aconselharam seus cidadãos a adiarem viagens ao Egito. Para quem quisesse chegar ao país ainda assim, a tarefa se mostra cada vez mais complicada. A Delta Airlines cancelou, na sexta-feira, todos os seus voos para o Egito até segunda ordem.