Título: Panamericano: negociações finais
Autor: Lignelli, Karina
Fonte: O Globo, 31/01/2011, Economia, p. 19

Até noite de ontem, Grupo Silvio Santos e BTG acertavam detalhes da operação

SÃO PAULO. Continuava indefinida até ontem à noite a situação do banco PanAmericano. Representantes do BTG Pactual passaram o fim de semana em negociação com o empresário Silvio Santos para tentar fechar a compra da instituição. Bradesco, Santander e Safra também manifestaram interesse no negócio, mas não teriam apresentado uma proposta.

Segundo analistas, a venda do PanAmericano seria a única alternativa para evitar seu fechamento, após revelação de um rombo contábil de R$4 bilhões ¿ R$1,5 bilhão a mais do que o valor emprestado em novembro passado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC, entidade privada criada pelos próprios bancos em 1995, para garantir parte dos depósitos dos clientes do sistema financeiro em caso de quebra de uma instituição).

Um executivo do Grupo Silvio Santos disse que o empresário aceitou a proposta apresentada na quinta-feira passada pelo BTG, banco de investimento liderado por André Esteves. Mas ressaltou que, até ontem à noite, ainda estavam em definição os termos finais de um eventual contrato pelas partes. A maior dificuldade estaria em montar uma estrutura financeira para cobrir o rombo de R$4 bilhões, já que Silvio Santos não aceitaria abrir mão de outras empresas. O FGC também teria se negado a injetar mais dinheiro.

O PanAmericano é especializado em financiamento de automóveis e empréstimos em consignação (com débito em folha), com forte atuação junto às classes C e D. De acordo com o balanço de junho (o último apresentado ao mercado), a instituição amargou prejuízo de R$11,497 milhões no segundo trimestre e viu sua rentabilidade cair de 11,5%, no primeiro trimestre do ano, para - 5,1% no trimestre seguinte. À época, esses resultados foram atribuídos pela antiga diretoria a mudanças nos critérios de provisão para devedores duvidosos.

Balanço até setembro será divulgado nos próximos dias

A expectativa é que o balanço até setembro seja divulgado nos próximos dias, com um eventual desfecho da negociação com o BTG Pactual.

Participam também das conversas representantes da Caixa Econômica Federal, que em setembro de 2009 anunciou a compra de uma fatia equivalente hoje a 36,56% do capital total do PanAmericano. A participação acionária da Caixa, apontam os analistas, seria uma garantia de que o governo federal não deixaria o Panamericano quebrar. Em resposta à consulta feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o diretor de Relações com Investidores do banco, Celso Zanin, informou que a atual administração não havia ¿identificado de forma definitiva o valor das inconsistências contábeis constados anteriormente¿.

As irregularidades foram descobertas no ano passado por técnicos do Banco Central e são atribuídas à antiga diretoria (e, supostamente, sem o conhecimento de Silvio Santos). Entre elas, a contabilização no balanço de carteiras de créditos vendidas a outros bancos.