Título: Davos termina com elogios ao Brasil, que mandou poucos representantes
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 31/01/2011, Economia, p. 19

Empresários e economistas destacam papel de China e Índia na crise

DAVOS, Suíça. O Brasil passou pelo crivo do Fórum Econômico Mundial, que terminou ontem, em Davos, na Suíça, com fama de bom aluno. O reconhecimento ocorreu mesmo com o país estando representado por uma delegação tão pequena, que, praticamente, desapareceu no meio de uma legião de chineses, indianos e russos. No centro da cidade, e também nos pontos de ônibus, foram espalhados cartazes com fotos de jovens indianos, com os seguintes dizeres: "Índia includente: a maior fonte de talentos jovens do mundo". Pela primeira vez em anos, não se ouviu uma única crítica ao rumo econômico do Brasil. Ouvia-se apenas perguntas do tipo: por que tão poucos brasileiros?

- A quantidade de empresários que ouvi dizendo que tinha ido para o Brasil foi impressionante - comentou Mônica Antunes, assessora do escritor Paulo Coelho.

Inflação, dívida na Europa e guerra cambial são ameaças

Empresários e economistas encerraram ontem o Fórum agradecendo o mundo emergente, sobretudo China e Índia, por terem ajudado à economia mundial a sair do buraco da pior crise desde os anos 30. Davos, na realidade, comemorou não um sucesso, mas sim o fato de o mundo estar conseguindo administrar um desastre.

- Não caímos no precipício e há crescimento no mundo - avaliou Paul Bulcke, principal executivo da gigante suíça Nestlé e um dos presidentes do encontro de Davos.

- A economia está no caminho da recuperação - afirmou Wei Jiafu, principal executivo do China Ocean Shipping Group C.

Mas também há riscos de tempestade pela frente, alertaram economistas, banqueiros e empresários. Inflação no mundo emergente, endividamento na Europa, risco de uma guerra das moedas - dólar versus o remimbi chinês - e disparada dos preços das commodities foram alguns dos fantasmas do encontro este ano.

No plano político, a revolta no Egito pairou como uma nuvem negra, criando incertezas sobre se o país e os vizinhos do mundo árabe caminham para o mesmo desfecho da Tunísia, onde a "revolução de Jasmin" derrubou, em apenas alguns dias, o ditador Ben Ali. O ministro de Infraestrutura e Transporte da Tunísia, Yassine Brahim, assegurava que seu país vai construir uma "democracia".