Título: Dilma defenderá regras estáveis em discurso
Autor: Camarotti, Gerson ; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 01/02/2011, O País, p. 3

Presidente falará amanhã na abertura da 54ª Legislatura, tentando pacificar base

BRASÍLIA. Com a base rebelada, no discurso que fará amanhã na solenidade de abertura da 54ª Legislatura no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff vai defender a necessidade de regras estáveis como principal argumento para que seja aprovado um salário mínimo de R$545. Dilma defenderá a regra estabelecida no acordo fechado no governo Lula com as centrais sindicais, que garante ao longo dos anos um ganho real para o mínimo. Os insatisfeitos ameaçam impor a primeira derrota do governo Dilma na votação do salário mínimo. Hoje, ela também discursa na reabertura do ano Judiciário, em solenidade no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para tentar acalmar a base, no lugar do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, Dilma quebrará o protocolo e levará pessoalmente ao Congresso a mensagem com as principais diretrizes do Executivo para 2011. A decisão de abordar em seu discurso o salário mínimo sinaliza que Dilma decidiu mudar de estratégia e passará a negociar diretamente com o Congresso a medida provisória que estabelece o novo valor depois que as centrais sindicais reagiram à proposta do governo.

Compromisso de evitar a "praga" da inflação

Oficialmente, o Palácio do Planalto vai manter o diálogo com os sindicalistas, que pedem um mínimo de R$580. Mas Dilma decidiu ganhar essa batalha no Legislativo e na opinião pública ao defender de seu ponto de vista no discurso no Congresso, explicou um assessor direto da presidente.

Na fala aos parlamentares, Dilma fará um gesto de conciliação ao dizer que governará de mãos estendidas para todos e trabalhará em parceria com o Congresso. Ela ainda vai ressaltar que o Executivo e o Legislativo estarão juntos. Será um recado de que quer pacificar a relação com a oposição, mas principalmente com os aliados. Isso por causa do clima de insatisfação da base governista com o loteamento de cargos no segundo escalão.

Dilma deve ainda reafirmar alguns compromissos assumidos no discurso de posse, como o controle da inflação. Ela ressaltará que não permitirá que a "praga" da inflação volte a atingir as parcelas mais pobres da população, sinalizando claramente seu compromisso com a estabilidade de preços e o equilíbrio das contas públicas.

No primeiro discurso depois de eleita, Dilma chegou a afirmar que o povo brasileiro não aceita que os governos gastem mais do que seja sustentável e que não tolera mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. Em seu discurso, Dilma usará esse argumento de que a garantia da estabilidade econômica é fator fundamental para que haja longevidade do ciclo de crescimento.

A estreia da presidente no STF também será marcada pela quebra do protocolo. Em geral, o presidente da República não discursa em cerimônias como a de hoje, de início do ano judiciário. Mas será aberta uma exceção. Primeiro, o presidente da Corte, Cezar Peluso, dará seu recado. Em seguida, será a vez do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Dilma vai encerrar o evento com sua fala.

Em conversas privativas, ministros têm demonstrado indignação com a demora de Dilma para indicar o substituto do ex-ministro Eros Grau. A expectativa é de que Dilma nomeie logo o substituto, para evitar empates em julgamentos. Para escolher o novo ministro, a presidente teria pedido conselhos ao ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ao advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

A presidente vai ressaltar a necessidade de colaboração entre os poderes e a harmonia entre Executivo, Judiciário e Legislativo. Ela ainda destacará a necessidade de uma Justiça mais ágil. Mas não haverá saia justa entre Dilma e o STF. O Planalto mandou recados de que será nomeado em breve o novo ministro do Supremo. Ontem, assessores do Planalto já davam como certa a indicação do ministro do STJ Luiz Fux.

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