Título: Emoção no encontro com Mães da Praça de Maio
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 01/02/2011, O País, p. 10

Pela primeira vez um presidente brasileiro se reúne com movimentos sociais argentinos

BUENOS AIRES. Ontem, pela primeira vez na História, um presidente brasileiro incluiu em sua agenda na Argentina um encontro com representantes das Mães e Avós da Praça de Maio, dois dos principais movimentos sociais do país. Os grupos defendem a revisão e a condenação de crimes cometidos no último governo militar do país (1976-1983). Num clima de profunda emoção para ambas as partes, a presidente Dilma Rousseff conversou durante quase meia hora com mais de 25 integrantes de organizações de defesa dos direitos humanos argentinas, acompanhada pela presidente Cristina Kirchner. Segundo relatou ao GLOBO a presidente das "madres" argentinas, Hebe Bonafini, "Dilma ficou muito comovida com nosso trabalho".

A presidente brasileira recebeu de presente livros, documentos, cartas e um lenço branco, símbolo do grupo que nasceu no início da ditadura para exigir informações sobre o paradeiro de seus filhos, a grande maioria ainda desaparecida. As avós ainda estão em busca de seus netos, muitos dos quais nasceram em centros clandestinos de torturas e foram entregues a famílias vinculadas ao governo militar.

Num espanhol correto, Dilma devolveu o gesto com um "muchas gracias" e mostrou-se entusiasmada pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as atividades dos movimentos sociais argentinos. No início da reunião, Cristina fez questão de mostrar à presidente brasileira a sacada da Casa Rosada usada pelo presidente Juan Domingo Perón em diversos discursos. Acompanhadas pelas "madres" (mães) e "abuelas" (avós) argentinas, as duas chefes de Estado passaram vários minutos na sacada, observando e até mesmo cumprimentando pessoas que passavam em frente à Casa Rosada.

- Nos abraçamos muitas vezes, foi emocionante - comentou Hebe Bonafini, forte aliada do governo Kirchner.

Segundo ela, "a presidente brasileira interessou-se muito pelo trabalho que fazemos em nossa fundação, por exemplo, construindo casas para setores populares".

- Ela (Dilma) nos pediu que enviássemos informação sobre o que fazemos e nós nos colocamos à sua disposição para tudo o que ela precisar - afirmou a presidente das Mães da Praça de Maio.

Na conversa, não se falou sobre abertura de arquivos no Brasil, nem sobre a criação de uma comissão da memória.

- Não pedimos nada disso à presidente, não podemos nos meter na situação interna do Brasil - enfatizou Hebe.

A mesma versão foi dada por Dilma minutos antes de retornar para Brasília:

- Para mim elas não pediram (a abertura dos arquivos da ditadura brasileira).

Dilma comentou que as Mães da Praça de Maio "tiveram uma manifestação de imenso carinho por mim, acho que de alguma forma identificando em mim o que elas perderam ao longo dos anos". (Janaína Figueiredo, correspondente)